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Um texto de José Augusto Rocha (*)

Passam, nos dias 9 a 11 de Março, quarenta e oito anos sobre a realização do I Encontro Nacional de Estudantes, (1) que abriu as portas à chamada “Crise Académica de 62” e inicia uma brutal repressão sobre o movimento estudantil e particularmente sobre os estudantes universitários de Coimbra e a Associação Académica, em cuja sede se realizou.

Muito embora sejam várias as abordagens escritas destes acontecimentos, a verdade é que elas se baseiam em testemunhos indirectos ou em documentos, em especial comunicados da época, mas nunca, no que a Coimbra se refere, a quem os viveu por dentro e deles foi, em certa medida, seu actor.

Enquanto dirigente da A.A.C., vivi intensamente estes acontecimentos e deles venho, hoje, dar curta memória.

Nos dias 3 e 4 de Fevereiro de 1962, realizou-se na Associação de Económicas de Lisboa, uma reunião dos dirigentes das associações de estudantes do Porto, Lisboa e Coimbra, para discutir e tomar importantes deliberações sobre o movimento associativo a nível nacional: a criação do Secretariado Nacional dos Estudantes Portugueses – embrião da União Nacional dos Estudantes Portugueses – e o I Encontro Nacional de Estudantes. Nessa reunião, a Associação Académica de Coimbra esteve representada pelos seus dirigentes, António Taborda, Eduardo Soeiro e por mim próprio. Foram muito polémicas e longamente discutidas qualquer uma dessas iniciativas, estando sobre a mesa a questão de saber se o movimento estudantil aguentaria a repressão política que se previa viesse a acontecer. Foi particularmente intenso o debate sobre a criação do Secretariado Nacional e a questão daí decorrente sobre se essa deliberação se deveria tornar, desde logo, pública. Após várias voltas à mesa da reunião, a A.A.C. defendeu e votou, integralmente e sem restrições, todas as propostas, sendo acompanhada, após uma primeira hesitação sobre a publicidade do Secretariado Nacional, pela Associação de Estudantes de Medicina, representada por Eurico Figueiredo, dirigente arguto e com apurada sensibilidade estratégica do movimento associativo, com quem, aliás, viria a ter conversas importantes, em momentos decisivos para o seu futuro, e, em particular, nos momentos mais altos da repressão.

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Um texto de Jorge Martins (*)

 
A vereação republicana de Lisboa em 1908

Após a ruptura com a monarquia, em Novembro de 1907, Braamcamp Freire justifica a sua adesão ao Partido Republicano, em declaração ao jornal O Mundo: «O que se tem passado enoja-me, mas não só me enoja: irrita-me, obriga-me a romper». Se com esta sua atitude incomodou os seus amigos monárquicos, pelo contrário, originou dezenas de cartas e telegramas de solidariedade da parte de figuras gradas do republicanismo: Afonso Costa, Manuel de Arriaga, João Chagas, José Relvas, Bernardino Machado, Alexandre Braga, Francisco Grandela, França Borges, Augusto Vasconcelos, Alves da Veiga.

Atentemos em alguns exemplos. Afonso Costa: «Saúdo entusiasticamente novo correligionário prestando homenagem seu carácter». França Borges: «Em nome do [jornal] Mundo, do meu, saúdo respeitosa e entusiasticamente V. Exª uma nobreza de ideias e sentimentos que não pode deixar indiferente um português que ama sinceramente o seu país e que antepõe a todas as considerações o ideal de uma pátria feliz: respeitada e servida por homens de grande bondade e provada inteligência!». Francisco Grandela: «Feliz país que tais filhos possui!». Um militar do 31 de Janeiros de 1891: «António José Carlos Silva Sargento demitido suspeita implicado revolta 31 de Janeiro Porto na impossibilidade felicitar V. Exª pessoalmente por estar bastante doente fá-lo por este meio fazendo votos que a vossa nobre atitude de carácter seja seguida por outros que há muito deviam estar no outro partido do povo e que trabalha para a emancipação do nosso infeliz país». Um cidadão anónimo de Grândola: «Espero que V. Exª não levará a mal que eu, um obscuro cidadão português, o felicite pelo seu procedimento altivo e nobreza de carácter em face do poder absoluto que actualmente oprime e vexa a nossa pátria».

Perante esta calorosa recepção republicana à adesão de Braamcamp Freire, não causou nenhuma admiração o facto de se ter candidatado às eleições municipais para a Câmara de Lisboa no ano seguinte. O desânimo e a desorganização impossibilitaram os monárquicos de sequer se submeterem a votos. A lista republicana, liderada pelo «cidadão Freire», ganhou naturalmente. Eis os nomes dos dez vereadores que o acompanharam nesta importante vitória dos republicanos, como se veria dali a dois anos: Francisco Grandela, Ventura Terra, Tomás Cabreira, Veríssimo de Almeida, José Miranda do Vale, Luís Filipe da Mata, Cardoso de Oliveira, Carlos Ferreira Alves, Cunha e Costa e Augusto José Vieira. Os nomes dos onze suplentes também incluíam republicanos proeminentes: Barros Queirós, Afonso de Lemos, Agostinho José Fortes, Nunes Loureiro, Dias Ferreira, Aurélio da Costa Ferreira, Pimentel Leão, Alberto Marques, Inácio Costa, Ramos Simões e Manuel Caetano Alves.

Claramente, o Partido Republicano apostava forte nesta candidatura. Se demonstrasse ter capacidade para governar bem a capital, também poderia ambicionar o governo do país.

 
(*) Biografia de Jorge Martins

Guiné 1964

 
Um texto de José Augusto Rocha (*) 
 
A 25 de Novembro de 1963, embarquei no cargueiro «Ana Mafalda», (1) adaptado à pressa para transportar outra e nova carga – homens soldados – rumo à guerra colonial da Guiné.  A partir desta data, como que começou outro tempo na minha vida e, tantos anos passados, vem dar testemunho breve da memória daquela guerra o ex-tenente miliciano, José Augusto Rocha.

Fá-lo em condições privilegiadas de um amadurecimento de tempo passado, ou seja, potenciado por aquilo que um dia tão bem recordou Eduardo Lourenço, citando Teixeira de Pascoais: «o futuro é a aurora do passado». Na verdade, desde aquela longínqua data de 1963 até aos dias de hoje, já lá vai muito futuro, o suficiente para re-iluminar uma vivência pessoal que agora transmito pela primeira vez e que sei comporta elementos desconhecidos daquela guerra.

Nos anos sessenta, a ordem de incorporação e a ida para a guerra colonial estava indisfarçavelmente ligada à repressão política e à PIDE. Esta articulação era particularmente visível em relação ao movimento estudantil e em especial aos seus dirigentes. As medidas de repressão do aparelho do Estado, ao nível das forças armadas, eram várias e diversificadas e iam desde a incorporação em  estabelecimentos militares disciplinares de correcção, como o de Penamacor, onde foi internado, por exemplo, o Hélder Costa e o João Morais, até incorporações antecipadas e transferências arbitrárias de quartéis, de acordo com estritas ordens da polícia política (PIDE).

No meu caso, libertado do Forte de Caxias, em Julho de 1963, fui incorporado logo em Setembro, para minha total surpresa, no «Regimento de Lanceiros 2», conhecido como o quartel da polícia militar, unidade de confiança do regime político do Estado Novo. Vim a encontrar aí outro dirigente associativo, da Associação dos Estudantes da Faculdade de Letras, o João Paulo Monteiro, filho do exilado político Adolfo Casais Monteiro. A surpresa de imediato foi esclarecida. O treino militar do 1º ciclo, naquele Regimento, era muito duro e de verdadeiro castigo e, logo que terminou, ambos fomos transferidos para a Escola Prática de Infantaria de Mafra, por despacho do então Ministro da Defesa Nacional, General Mário Silva.

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Abel Manta - Tertúlia
  João Abel Manta: Tertúlia do consultório do Prof. Pulido Valente 

 
Um texto de Daniel Lacerda (*)

A primeira deste texto pode ser lida aqui. 

 
Combate contra os poderes instituídos

Cedo os organismos repressivos da liberdade de criação se voltaram contra os escritores que ousavam elevar a personagens de romance a gente de trabalho ou simples empregados, e no novelo narrativo relatar como eram manipulados e ofendidos pelos cordelinhos da supremacia social. Manuel da Fonseca relatou que levava os seus primeiros romances à censura prévia, para acautelar a despesa insuportável que representaria a sua apreensão pela polícia.
Houve períodos em que se explorava alguma passividade dos governadores civis para promover encontros com os romancistas. Alves Redol, no início dos anos 60, veio ao Ateneu de Leiria fazer uma conferência porque indivíduos como Vasco da Gama Fernandes – o primeiro republicano da cidade de Leiria, depois presidente da Assembleia Nacional – se batiam todos os dias para dar à cidade alguma actividade cultural, sempre em confrontação com as autoridades, que fecharam rapidamente o modesto cineclube. Apenas a conta-gotas era autorizada, sob ameaça, alguma conferência ou concerto e ainda sob vigilância policial e dos«informadores» (os bufos), que estabeleciam listas dos neófitos interessados por esses suspeitos encontros.
Na Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, nas Escadinhas do Duque, em Lisboa, Manuel da Fonseca veio relatar – com o seu dom inigualável de contador de histórias – como escreveu a Seara de Vento, desbastando o seu inicial relato dramático dum caso verídico divulgado pelo jornais, até o tornar nessa tensa obra-prima, que para lá do drama do homem só em revolta, germina a organização colectiva, em grande paralelismo com as alternativas sociais do filme Roco e seu Irmãos de Visconti, ou com o debate Sartre-Camus à volta da opção revolta versus revolução. Ninguém podia garantir que a conversa-debate pudesse chegar ao fim, já que os lisboetas reconheciam, dissimulados na assistência, a presença de agentes da polícia secreta. Eram ocasiões excepcionais, consentidas sob caução pelo poder despótico, que jogava com a mais ténue ambição de cidadãos curiosos das novidades da cultura e do mundo. Para ouvir José Tengarrinha expor as suas pesquisas acerca do liberalismo, ou Augusto da Costa Dias os resultados do seu inquérito ao neo-garretismo, era necessário vencer idênticos obstáculos e estar disposto à mesma singular aventura. Era-lhes necessário emudecer a voz de romancistas, poetas e ensaístas, excluindo-se já o comentário político autorizado apenas à pena de jornalistas com beneplácito oficial. Do mesmo modo se impedia os artistas plásticos de vanguarda ou de arte comprometida de expor e de criar assim um público necessário à expressão artística profissionalizada. O grupo coral da Academia de Amadores de Música de Lisboa, dirigido por Fernando Lopes-Graça – figura excepcional da nossa cultura lembrado noutro artigo deste número de Latitudes por Bruno Belthoise – estava sujeito à mesma eventualidade dos esbirros, não havendo jamais a certeza de poder actuar ou ser suprimida policialmente a sessão anunciada, como só muito raramente se atrevia a interpretação da canção fetiche Canta, camarada canta, do repertório das Heróicas criadas por Lopes-Graça por ocasião do MUD sobre versos de poetas neo-realista do Novo Cancioneiro. Nesses anos 50 e 60, exerciam impunemente essa missão as forças ao serviço do grupo político formado por beatos e incultos que se apropriaram do poder e, arrogando-se o destino dos demais, exerciam a mais cruel das violências contra as actividades do espírito.
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Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 1971. No Tribunal Plenário – 4º Criminal – de Lisboa, começa o julgamento de dez pessoas acusadas de apoio ao MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola. Preside ao Tribunal Fernando António Morgado Florindo, acolitado por  Bernardino Rodrigues de Sousa e João de Sá Alves Cortês. Costa Saraiva é o acusador público. Na defesa, ao lado de homens tão experimentados no Plenário como Manuel João da Palma Carlos, jovens advogados como Brochado Coelho, José Augusto Rocha ou Macaísta Malheiros. 

A presença entre os arguidos do Presidente de Honra do MPLA, Padre Joaquim Pinto de Andrade – antigo chanceler da arquidiocese de Luanda e à data da prisão a frequentar a Faculdade de Direito de Lisboa – garante a curiosidade internacional: delegados da Amnistia Internacional, Associação Internacional dos Juristas Democratas, Liga Belga dos Direitos do Homem, Federação Internacional dos Direitos do Homem e Associação Internacional dos Cristãos Solidários batem-se pelo direito de assistir ao julgamento, na sala do Plenário em que, por norma, a polícia política preenche, desde logo, grande parte dos lugares. 

A perseguição que o regime de Salazar movia a Joaquim Pinto de Andrade justificava o interesse dessas organizações: já em 1950, com patriotas angolanos (seu irmão Mário, Agostinho Neto) ou de outras colónias portuguesas (o guineense Amílcar Cabral e a santomense Alda do Espírito Santo), sonhava e planeava «o futuro das nossas pátrias africana» [1] Mas foi a partir de 1953, após regressar de Roma, onde se formara em Teologia, que as perseguições se sucederam, como a sua defesa recordou, aliás, no Tribunal Plenário: envolvimento no chamado «processo dos 50»,  prisão em 25.7.1960, exílio e prisão no Aljube de Lisboa em 4.7.1960; envio num navio de carga para o desterro na Ilha do Príncipe; regresso ao Aljube de Lisboa em 1961; residência fixa e clausura no Mosteiro de Singeverga; nova prisão na PIDE da cidade do Porto e posterior transferência para as celas do Aljube, em Lisboa, os tristemente famosos «curros». Em  5.1.1963, é libertado apenas para ser sujeito a nova prisão na cadeia de Caxias – «Completava eu 177 dias de prisão preventiva e sem culpa formada. Faltavam três dias para o máximo permitido por lei. Fui posto em liberdade, mas… preso imediatamente a seguir à porta da cadeia do Aljube e transferido para Caxias! No dia 8-1-63, conduzido à sede da P.I.D.E., fui ali informado de que fora posto em liberdade três dias antes e preso de novo à porta da cadeia… porque novas actividades subversivas haviam sido desenvolvidas dentro da cadeia ou à porta da cadeia.» [2] Após 389 dias de prisão ininterrupta sem culpa formada, é colocado em residência fixa no interior do Alentejo. Nova prisão em 24.1.1964, nova colocação em residência fixa num seminário de Vila Nova de Gaia. Preso de novo em Abril de 1970 é finalmente levado, nesse 11 de Fevereiro de 1971, a tribunal. 

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Logo que chegou à chefia do poder, em 5 de Julho de 1932, António de Oliveira Salazar começou a elaborar a Constituição sobre a qual assentaria o seu novo regime, o Estado Novo. Após ser plebiscitado, o texto constitucional foi promulgado em Abril de 1933, no ano em que o novo regime salazarista criou a polícia política (PVDE) e o Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) e lançou as bases da legislação corporativa, que assentaria, depois da proibição das associações operárias, em Sindicatos Nacionais (SN) únicos e Grémios patronais todo-poderosos. Na luta contra o processo da chamada «fascização» dos sindicatos e num movimento de recusa de dissolução das organizações operárias nos SN e de formação de comités de base de luta por reivindicações económicas e liberdades políticas, ergueram-se os anarco-sindicalistas, os comunistas e alguns socialistas, respectivamente organizados na Confederação Geral do Trabalho (CGT), na Comissão Inter-Sindical (CIS) e na Federação das Associações Operárias (FAO), bem como elementos do Comité das Organizações Sindicais Autónomas (COSA). 

No PCP, a linha de Bento Gonçalves e da direcção foi inicialmente de aproveitamento das assembleias-gerais que deveriam realizar-se para decidir da aprovação dos novos estatutos sindicais e aprovar moções de repúdio da nova legislação e dos sindicatos nacionais, gerando um movimento de massas que poderia vir a desembocar numa greve geral contra a «fascização dos sindicatos». O certo é que a táctica do PCP teve pouca aceitação na própria CIS, dirigida por José de Sousa, que aderiu à táctica da «greve geral insurreccional» e a partir de então os sindicalistas comunistas concentraram-se nos preparativos desta. 

No processo de organização do movimento de resistência aos decretos sindicais do Estado Novo, revelar-se-ia assim dominante um projecto insurreccional, programado inicialmente pelos comunistas e anarquistas, organizados em Comités Sindicalistas Revolucionários (CSR), em conjunção com forças reviralhistas. Mas logo em Novembro de 1933, a PVDE conseguiu prender e deportar Sarmento de Beires e outros reviralhistas, participantes numa tentativa falhada de intentona que deveria coincidir com a «greve geral revolucionária», que após conhecer sucessivos adiamentos devido à repressão, foi marcada para 18 de Janeiro de 1934. 

A polícia e o governo comportaram-se como se desejassem que o movimento deflagrasse para, em seguida, desmantelá-lo e reprimir os envolvidos. Parecendo estar ao corrente dos preparativos da «greve geral revolucionária» de 18 de Janeiro de 1934, a PVDE prendeu, na véspera, alguns dos principais dirigentes sindicalistas, entre os quais se contaram os anarco-sindicalistas Mário Castelhano e Acácio Tomás de Aquino e o reviralhista Carlos Vilhena, detido na madrugada desse dia. Em Lisboa, na noite de 17 para 18 de Janeiro, Salazar abandonou a sua residência, acolhendo-se, primeiro no Governo Civil e, em seguida, ao quartel de Caçadores 5, em Campolide, enquanto os pontos nevrálgicos da capital eram de imediato ocupados pelo Exército. As adesões à «greve geral» de dia 18 acabaram por se revelar reduzidas, registando-se paralisações e acções diversas em Lisboa, Coimbra, Leiria, Barreiro, Almada, Martingança, Silves, Sines, Vila Boim (Elvas), Algoz-Tunes-Funcheira e na Marinha Grande. 

Na noite de dia 17, em Lisboa, rebentou uma bomba no Poço do Bispo e foi cortado o caminho-de-ferro em Xabregas, ao mesmo tempo que explodiam duas bombas na central eléctrica de Coimbra, colocada por anarquistas. Só na Marinha Grande, onde as lutas anteriores dos vidreiros tinham criado um ambiente propício, se foi mais longe: sob o impulso do sindicato (onde predominavam os comunistas), grupos de operários ocuparam o posto da GNR, o edifício da Câmara Municipal e os CTT, proclamando o «soviete da Marinha Grande». Tropas vindas de Leiria tomariam conta da vila poucas horas depois, ficando-se «greve geral insurreccional» por aí, com o governo a aproveitar para intensificar a caça aos libertários e comunistas. 

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Francisco Paula de Oliveira («Pavel»), operário serralheiro do Arsenal de Marinha e dirigente da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP) na clandestinidade, desde 1932, foi preso pela primeira vez pela polícia política, em Fevereiro desse ano, mas acabou então por ser solto por falta de provas. Mais tarde, a PVDE apuraria que, dias antes dessa detenção, «Pavel» havia iniciado a reorganização das juventudes comunistas, numa reunião realizada na Costa da Caparica, onde fora nomeado um novo secretariado da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas (FJCP), no qual ele próprio ficara responsável pela imprensa.

Depois, ainda segundo o relatório daquela polícia, «Pavel» tinha sido enviado como delegado português a um congresso das juventudes comunistas espanholas, que não chegara a realizar-se. Após regressar de Madrid, convocara nova conferência regional para a Costa Caparica, tendo proposto nova reorganização da FJCP e, pouco depois, redigira um informe em nova reunião realizada na Amadora. Tinha ainda participado na organização de um plano de acção para a agitação para 4 de Setembro de 1932 e, nesse dia, havia sido ele a discursar num comício relâmpago em Alcântara.

Em 13 de Março de 1933, «Pavel» foi novamente preso, quando, na clandestinidade, visitava a sua mãe numa casa na Rua do Ferragial, em Lisboa. Ao verificar que ele sofria de uma grave doença pulmonar e não querendo que morresse nas suas mãos, a polícia transferiu-o da cadeia Aljube para a enfermaria do Limoeiro. Foi aqui que Edmundo Pedro conheceu «Pavel», que, devido ao seu precário estado de saúde, acabou por voltar a ser transferido, sob prisão, para o hospital-sanatório da Ajuda, de onde ele conseguiria evadir-se, em 3 de Setembro de 1933, com a ajuda de um indivíduo de nome Ferreira da Silva, motorista, e de Gabriel Pedro que o levou depois para uma sede clandestina do PCP, em Lisboa (1).

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Uma surpresa com que me deparei, tempos atrás, ao revolver maços de papéis antigos do MES (Movimento de Esquerda Socialista) foi ter encontrado três folhas A4, apresentando sinais de longa afixação numa parede, nas quais se divulga a estrutura, e constituição, dos primeiros órgãos dirigentes do Movimento no período imediatamente posterior ao dia 25 de Abril de 74. 

Muitos dos nomes são meus velhos conhecidos, mesmo amigos, alguns prematuramente falecidos, outros (poucos) são vagas reminiscência que a memória não reteve, sendo todos, politicamente, frutos da época, apanhados na voragem de uma mudança radical na sociedade portuguesa para a qual, de verdade, nenhum de nós estava preparado. 

Um caso exemplar é o primeiro nome que surge na lista, sem hierarquia, da estrutura designada por «Comissão Política»: Mário Simões Maciel. Trata-se de uma bizarria, própria do ambiente de frenética agitação da época, que o primeiro nome que surge a encabeçar a «Comissão Política» seja de alguém cuja inclusão naquela lista, ainda hoje, me desperta a maior perplexidade. (Alguém que explique!). Além do Mário Maciel só não referencio, dos restantes catorze, o António J. Pereira e o Pedro Martins. Assinalo que o Braga da Cruz é o Manuel – actual Reitor da Universidade Católica. 

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Uma selecção de alguns dos posts editados neste blogue.

 
ENSAIOS

  • Pela História Oral (Maria Manuela Cruzeiro)
  • Que Fazer Com Tanto Passado? (Rui Bebiano)
  • Vocês o que estão para aí a dizer sobre o feminismo? (Ana Vicente)
  • Pior do que uma voz que cala é um silêncio que fala (Maria Manuela Cruzeiro)
  • 25 de Abril: Revolução ou Revolta? (Maria Manuela Cruzeiro)
  • 25 de Abril: Ruptura ou Continuidade? (Maria Manuela Cruzeiro)
  • 25 de Abril: Amnésia ou Mentira? (Maria Manuela Cruzeiro)
  • 25 de Abril: Euforia e Resignação (Maria Manuela Cruzeiro)
  • «Falar» na polícia (Diana Andringa)
  • 25 de Abril – O triunfo do imaginário (Maria Manuela Cruzeiro)
  • MFA – Herói colectivo (Maria Manuela Cruzeiro)
  • António de Spínola – O Herói Supletivo (Maria Manuela Cruzeiro)
  • Vasco e Otelo – A atracção dos opostos (Maria Manuela Cruzeiro)
  • Cunhal e Soares – Os «inimigos íntimos» (Maria Manuela Cruzeiro)
  • O combate pela dignidade na memória do Gulag (Rui Bebiano)
  • Costa Gomes – O Mal Amado (Maria Manuela Cruzeiro)
  • No Reino dos Falsos Avestruzes – Um Regresso Inadiável (Maria Manuela Cruzeiro): parte 1parte 2parte 3
  • Rever e desculpabilizar o Gulag (Rui Bebiano)
  • RDA ajuda a encontrar o rumo? (João Maria de Freitas Branco)
  • Vinte anos depois do muro (Miguel Cardina)
  • O vampirismo franquista (João Tunes)
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    HISTÓRIA

  • O massacre judaico de Lisboa em 1506 (Jorge Martins)
  • O aparelho torcionário da PIDE/DGS (Irene Pimentel): parte 1parte 2
  • A situação das mulheres no século XX em Portugal (Irene Pimentel): parte 1parte 2
  • Breve tratado sobre relações de vizinhança (Paulo Pinto)
  • A cooperativa Pragma: uma bela história (Joana Lopes)
  • 18 de Janeiro de 1934 (Irene Pimentel)
  • 18 de Janeiro de 1934 em Coimbra (Irene Pimentel)
  • A vigília na Capela do Rato (João Miguel Almeida)
  • Há quarenta anos, uma vigília contra a guerra colonial (Joana Lopes)
  • PIDE, 25 de Abril de 1974, 21:00: o som (Joana Lopes)
  • Tarrafal – 29 de Outubro de 1936 (José Augusto Rocha)
  • In Memoriam Palma Inácio (José Augusto Rocha)
  • A propósito do 5 de Outubro: memórias de um dos seus heróis (Helena Cabeçadas)
  • Melo Antunes – A minha Homenagem (Maria Manuela Cruzeiro)
  • A questão mais incómoda da Guerra Colonial (João Tunes)
  • Conversas sobre Amílcar (Diana Andringa)
  • Para a memória dos crimes da PIDE: o crime das escutas, um julgamento que não se fez! (José Augusto Rocha)
  • «Lusitânia Quo Vadis?» (Joana Lopes)
  • Contributo para a história do sindicalismo docente (Helena Pato): parte 1parte 2parte 3
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    ENTREVISTAS / TESTEMUNHOS

  • Entrevista a Francisco Martins Rodrigues (Miguel Cardina): parte 1parte 2parte 3
  • Memória aos 80: conversa com Edmundo Pedro e Nuno Teotónio Pereira (Joana Lopes): parte 1parte 2parte 3
  • O regresso do Tarrafal (Edmundo Pedro)
  • CITAC ou a regra da excepção [entrevista a Ricardo Seiça] (Miguel Cardina)
  • O «Grupo dos 16» (Joana Lopes)
  • Viagem ao centro do mundo da Maria José e do Zé Luís (entrevista de Maria José Margado e José Luís Saldanha Sanches a Anabela Mota Ribeiro, Pública)
  • Uma lição de João; Uma lição de João (adenda) [sobre João Martins Pereira] (Rui Bebiano)
  • Brancos em Caxias, Pretos para o Tarrafal (Diana Andringa)
  • Um Natal na prisão de Caxias (José Hipólito dos Santos)
  • Prisão e Tortura – Dois Casos (Raimundo Narciso)
  • Do outro lado do Muro – Berlim / Praga 1967 (Helena Cabeçadas)
  • 27 de Janeiro de 1970 – relato de uma prisão atípica (Diana Andringa)
  • Naquela madrugada de 21 de Janeiro de 1965 (Artur Pinto)
  • Vinda de Humberto Delgado para dirigir o movimento de Beja (J. Hipólito dos Santos)
  • Guiné, 1969/71, do norte para o sul, com passagem pelo Comando-Chefe (João Tunes)
  • Memória Breve da História da Guiné (José Augusto Rocha)
  • O diabo à solta nas margens do Nango (José Pedro Barreto)
  • O «Paço do Duque» (Joana Lopes)
  • Quando sentei Delgado ao lado de Sandokan (João Tunes)
  • O enquadramento do fotógrafo cheio de piedade social (João Tunes)
  • Política e pertença (João Tunes)
  • Um bife na Brasileira do Chiado (Helena Pato)
  • Um, dois, três… vamos lá, outra vez! (Helena Pato)
  • Para umas formalidades no Paço do Duque (Helena Pato)
  •  
    QUE FORÇA É ESSA? (SOBRE MULHERES RESISTENTES)

  • Que Força é essa? [apresentação] (Maria Manuela Cruzeiro)
  • Maria Eugénia Varela Gomes (Maria Manuela Cruzeiro)
  • Maria Ângela Vidal Campos (Irene Pimentel)
  • Maria Natália Teotónio Pereira (Joana Lopes)
  • Fernanda Paiva Tomás (Diana Andringa)
  • Sofia de Oliveira Ferreira (Irene Pimentel)
  • Judith Cortesão (Manuel António Pina)
  • Aida Magro (Maria Manuela Cruzeiro)
  • Julieta Gandra (Diana Andringa)
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    MEMÓRIA HISTÓRICA EM ESPANHA (POLÉMICA)

  • O historiador e o justiceiro (Rui Bebiano)
  • História e justiça (Irene Pimentel)
  • Memória e cidadania (Joana Lopes)
  • Garzón e o rosto dos vencidos (Miguel Cardina)
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    CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DO MES (por EDUARDO GRAÇA)

  • I Congresso do MES – algumas reflexões tardias
  • Criação e Extinção do MES – algumas reflexões tardias (II)
  • MES – Os dirigentes fundadores (I)
  • MES – Os dirigentes fundadores (II)
  • MES – O documento da ruptura do grupo de Jorge Sampaio no I Congresso (III)
  • MES – Os dirigentes eleitos no I Congresso (IV)
  • O discurso do MES silenciado no 1.º de Maio de 1974 – António Santos Júnior
  • MES – O II Congresso de Fevereiro de 1976 (I)
  • MES – Os dirigentes eleitos no II Congresso (II)
  • MES – Resolução da 8.ª reunião plenária do Comité Central
  • Breve resenha histórica da imprensa do MES (I)
  • Breve resenha histórica da imprensa do MES – o jornal «Esquerda Socialista» (II)
  • Breve resenha histórica da imprensa do MES – o jornal «Poder Popular» (III)
  •  
    DOSSIER «ELEIÇÕES 69»

  • As «eleições» e a guerra (João Tunes)
  • A extrema-esquerda e as eleições de 69 (Miguel Cardina)
  • Entrevista com José Tengarrinha (à Seara Nova) (Helena Pato)
  • Onde é que estavas a 26 de Outubro de 1969? (depoimentos dos redactores)
  • Evocação da CDE de Coimbra nas eleições legislativas de 1969
  • Vestígios da CDE (Artur Pinto)