O Zé Luís foi um dos primeiros heróis que conheci. Meses antes de eu chegar à Faculdade, fora apanhado pela polícia durante uma distribuição de comunicados, resistira à prisão e fora baleado. Foi aos gritos de “Liberdade para o Saldanha Sanches” que pela primeira vez participei numa manifestação, no dia do seu julgamento.

Condenado à prisão já sofrida de dez meses, saíu imediatamente. Algum tempo depois, voltaria a ser preso, por poucos dias, na Cantina da Cidade Universitária, e expulso da Universidade por quatro anos.

Passou então à clandestinidade e voltou a ser preso e condenado a três anos de prisão e aplicação de medidas de segurança. Reencontrei-o durante as minhas visitas ao Alexandre Oliveira, em Peniche. Por vezes ouvia, do outro lado do vidro, as suas gargalhadas inconfundíveis.

Depois do 25 de Abril, durante as perseguições ao MRPP, passou alguns dias em minha casa. Era um clandestino exemplar: ajudava na cozinha, lavava a louça e, embora tivesse uma arma, deixava-a fora do quarto que partilhava com a minha filha de poucos meses.

No início dos anos 90, entrevistei-o para a série “Geração de 60”. Tinha mudado bastante, mas afirmava a sua alegria ao olhar para trás e saber que tinha participado na luta para mudar o país: “Acho isso uma alegria permanente na vida de uma pessoa.” Mesmo se o impediu de outro passado: “Namorar, sair à noite, beber um copo de vez em quando.” “Mas”, terminou, “a vida é sempre uma coisa finita, há sempre um número infinito de formas de a usar bem e só se pode usar de algumas formas, não é?”

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