14/5/2010. Acaba de ser conhecida a morte de José Luís Saldanha Sanches, colaborador dos «Caminhos». Em jeito de homenagem, republicamos esta entrevista datada de 2008.

 
A Pública de ontem divulgou uma extensa e notável entrevista com Maria José Morgado e José Luís Saldanha Sanches. Com o consentimento deste último, colaborador regular deste blogue, reproduzimo-la na íntegra. Porque muitos leitores poderão não a ter lido e também porque nos parece importante que ela permaneça acessível num blogue com as características dos Caminhos da Memória.

 
Pública, 5/10/2008, Entrevista de Anabela Mota Ribeiro

Ela era a “renegada Morgado” e ele tinha o nome escrito nos muros de Lisboa: “O povo libertará Saldanha Sanches.” Depois desistiram da revolução, tiveram uma filha, descobriram com ela um mundo. Guardaram o inconformismo, a militância. Maria José Morgado e Saldanha Sanches ainda são revolucionários?

Eles já se permitem falar de fraquezas pequeno-burguesas. Como ter sentimentos, ter uma filha, a relação com a infância. Eles já se habituaram a vivê-las. Fazem imensa troça do radicalismo de um tempo – que é a forma de olharam para si, agora, e aceitar que foram outros. São desiludidos maoístas. São descrentes.
José Luís Saldanha Sanches, o fiscalista, não falou de Fiscal. Maria José Morgado, a procuradora incorruptível, não falou de corrupção. Falaram de uma coisa geracional. De um despertar colectivo que começou com a campanha de Delgado, e o apanhou a ele, mais velho. De um movimento que a fez despertar, a ela, na faculdade. Um movimento que apetecia. Foram um casal MRPP. Deixaram de ser MR’s e continuaram a ser um casal.

Num domingo à tarde, recuperaram as memórias de um tempo. Com ironia. Com distância. Com paixão. Talvez eles ainda sejam os mesmos. Sendo outros.
Já não são homofóbicos. Ela pinta os olhos. Ele sonha que está preso e que há nisso alegria. O mote era: “Vida simples, luta dura.” Tudo mudou e tudo ficou na mesma.

Se a vossa filha contasse a vossa história – a do vosso encontro, a do período revolucionário – contaria o quê?
Maria José Morgado (M.J.M.) – Responde tu.
Saldanha Sanches (S.S.) – Ela sabe pouco disso. Quem lhe fala mais do nosso passado revolucionário são as avós. Nem sabemos bem o que ela sabe a esse respeito. Ela é de outra geração, que reage mal à doutrinação.
M.J.M. – Ela ficou um bocado quixotesca, como nós. Penso que isso não é produto da educação, vem no sangue. Nós não somos pessoas viradas para o passado.

Porque é que foram as avós a contar-lhe e não os pais?
S.S. – Não acho adequado. Sobretudo porque ela tem a mesma rebeldia que nós tínhamos. Recusa os valores dos pais.
M.J.M. – Foi muito difícil para ela. Queria contestar os valores dos pais, mas foi sempre uma contestação falhada. O que é curioso é que a miúda sempre mostrou um grande apego por valores que estão fora de moda – liberdade, integridade, generosidade. A prisão, a repressão, a falta de liberdade, a PIDE ir buscar-nos a casa, as cartas que escrevi ao meu marido quando ele estava na prisão e as que ele me escreveu a mim… Os meus sogros passaram pelo menos seis anos da vida deles a caminhar para Peniche ao fim-de-semana; a minha sogra não tinha outro programa; e o resto da semana era para preparar a viagem: levar roupa lavada, os livros que podiam entrar, e pensar nisso. Isso marcou toda a família. A minha mãe também foi depois visitar-me à prisão e foi treinada nessas visitas pela minha sogra. Isso deixou-lhes uma marca de angústia e sofrimento inultrapassável. Isto fazia parte das histórias de criança que contavam à miúda.

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Memórias do «GOLPE da SÉ» – Três protagonistas, três testemunhos

 

I Curso de Verão de História da República: Republicanos‏

 

A.A.B.M. – João de Deus Ramos

A ler:
Luís Graça, Há 40 anos o Papa Paulo VI recebia em audiência privada, em 1 de Julho de 1970, Amílcar Cabral, Agostinho Neto e Marcelino dos Santos

Um texto de Jorge Martins (*)

RODRIGUES – A MAIOR FAMÍLIA SABUGALENSE – Tal como para os Henriques, podemos estabelecer dois períodos para os Rodrigues. O primeiro, entre 1544 e 1704, em que os réus naturais do Sabugal acabariam presos fora do concelho de nascimento. E o segundo, entre 1704 e 1752, em que os réus presos no Sabugal nasceram sobretudo noutros concelhos, mas alguns deles já haviam nascido no concelho, o que revela algum regresso dos Rodrigues ao Sabugal.

Com efeito, entre 1544 e 1704, os Rodrigues nascidos fora do Sabugal foram presos em Pinhel (3), Penamacor (2), Almeida (1), Guarda (1). Entre 1704 e 1752, os Rodrigues naturais do Sabugal foram presos no próprio concelho (6), na Guarda (7), na Covilhã (2), em Viseu (2), no Rio de Janeiro (1), em Seia (1), no Fundão (1), em Miranda (1), em Beja (1), em Lisboa (1), em Tavira (1), em Valladolid (1), na Galiza (1).

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A direcção do NAM convoca todos os associados e apoiantes da Associação Movimento Cívico Não Apaguem a Memória! – NAM a participar no dia 25 de Abril de 2010 na cerimónia de descerramento-inauguração da placa informativa da localização da ex-sede da PIDE-DGS, na Rua António Maria Cardoso, organizada pelo Movimento Não Apaguem a Memória! – NAM em cooperação com a Câmara Municipal de Lisboa.

Este acto de importante significado para a Memória da luta pela liberdade é precedido por um mini roteiro da Memória com o desenvolvimento seguinte:

Ponto de encontro: Largo do Município, em Lisboa (18.00H)

1º Ponto do roteiro: Rua do Arsenal (Salgueiro Maia: 25 de Abril)

2º Ponto: Largo da Boa Hora (Tribunais Plenários)

3º Ponto: Rua Capelo (Rádio Renascença: 2ª senha “Grândola, Vila Morena)

Chegada e 4º Ponto: Rua António Maria Cardoso (ex-sede da PIDE), às 17.45H

No percurso serão evocados acontecimentos históricos e no final haverá uma breve intervenção do historiador, conhecido lutador anti-fascista e ex-preso político José Manuel Tengarrinha.

Este importante acto de preservação da Memória surge na sequência da luta do NAM pela recolocação da placa evocativa dos cidadãos mortos pela PIDE-DGS no dia 25 de Abril de 1974, na fachada do condomínio privado de luxo que substituiu a sede da PIDE sem que as autoridades então cuidassem,  como era seu dever cívico, da preservação do património histórico da luta pela Liberdade.

O historial dessa luta do NAM em torno da Placa e que no seu desenvolvimento deu origem a esta outra lápide que assinalará a ex-sede da PIDE  é, tal como consta no relatório de actividades do NAM, o seguinte:

«A placa evocativa das últimas vítimas da PIDE/DGS, assassinados no dia 25 de Abril de 1974, afixada por um grupo de cidadãos na ex-sede daquela sinistra polícia política, para lembrar a memória dos jovens que ali sucumbiram, foi retirada, no início das obras de transformação daquele local em condomínio privado de luxo.

Concluída a obra e constatada a não colocação da placa, o Movimento Cívico Não Apaguem a Memoria! (NAM) contactou o responsável pelo condomínio privado (GEF) para exigir a recolocação da placa no local de origem. Numerosos foram os protestos, muitos deles publicados no blog Caminhos da Memória, e registámos mais de duas mil adesões à causa organizada no Facebook para retorno da placa ao seu local de origem. A placa foi então recolocada mas em local de muito pouca visibilidade.

Esta situação desencadeou uma nova onda de protestos que culminaram com uma carta enviada pela direcção do NAM ao presidente da CML, António Costa, a cada um dos vereadores e à presidente da Assembleia Municipal, Simonetta Luz Afonso, para protestar pelo desrespeito à memória de tantas portuguesas e portugueses que lutaram pela Liberdade.

Na sequência desta carta, a vereadora da cultura da CML, Drª. Catarina Vaz Pinto, propôs, no final do passado mês de Fevereiro, uma reunião com a nossa direcção para discutir esta questão.

Nesta reunião o NAM voltou a defender que a placa evocativa das últimas vítimas da PIDE fosse colocada em local de maior visibilidade, após serem avivadas as letras dos nomes dos mortos cuja tinta desaparecera.

Na sequência desta reunião a vereadora da cultura fez-nos chegar a informação de que a CML aceitava a sugestão do NAM de que o edifício da PIDE/DGS fosse sinalizado no espaço público.

Mais recentemente, foi-nos solicitado que propuséssemos um pequeno roteiro, com indicação de alguns pontos que recordassem momentos significativos da liberdade conquistada, em Abril de 74, e que culminaria com o descerramento da lápide de sinalização da ex-sede da PIDE/DGS, no dia 25 de Abril, pelas 17.45H, tal como acima indicado.

Fomos, também, informados de que as letras dos nomes das últimas vítimas da PIDE seriam reavivadas.»

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→ Ana Cristina Leonardo – Do Forte de Peniche à cama do arqtº Paulino Montez passando pelas rendas de bilros — ou da vergonha de ter nascido em Portugal

 

→ Guilherme d’Oliveira Martins – “História do Ensino em Portugal” de Rómulo de Carvalho

 

→ A. Teixeira – A Europa técnica e a Europa ideológica

 
Um filme de Diana Andringa (*), no IndieLisboa’10

Sexta-feira, 23 de Abril, às 21H30 no Grande Auditório da Culturgest
Domingo, 25 de Abril, às 18H30, no Pequeno Auditório da Culturgest
(Edifício da Caixa Geral de Depósitos, Campo Pequeno, Lisboa)

Chamavam-lhe “o Campo da Morte Lenta”. Os críticos, naturalmente. Que as autoridades, essas, chamaram-lhe primeiro, entre 1936 e 1954, quando os presos eram portugueses, “Colónia Penal de Cabo Verde” e, depois, quando reabriu em 1961 para nele serem internados os militantes anticolonialistas de Angola, Cabo Verde e Guiné, “Campo de Trabalho de Chão Bom”.

Trinta e dois portugueses, dois angolanos, dois guineenses perderam ali a vida. Outros morreram já depois de libertados, mas ainda em consequência do que ali tinham passado. Famílias houve que, sem nada saberem o destino dos presos, os deram como mortos e chegaram a celebrar cerimónias funebres.

“Ali é só deixar de pensar. Porque se não morre aqui de pensamentos. É só deixar, pronto. Os que têm vida ficam com vida. Nós aqui estamos já quase mortos.” A frase é do angolano Joel Pessoa, preso em 1969 e libertado, com todos os outros presos do campo, em 1 de Maio de 1974.

No 35º aniversário desse dia, a convite do presidente da República de Cabo Verde, Pedro Verona Pires, os sobreviventes reencontraram-se para um Simpósio Internacional sobre o Campo de Concentração do Tarrafal.

“Tarrafal: memórias do Campo da Morte Lenta” resultou desse reencontro. Durante os dias em que os antigos presos voltaram ao Tarrafal, gravámos entrevista após entrevista, registando as suas recordações. Trinta e dois presos, desde o português Emundo Pedro, um dos que o estreou, em 1936, aos angolanos e cabo-verdianos que foram os últimos a deixá-lo, no 1º de Maio de 1974, passando pelos guineenses que, ali chegados em Setembro de 62, saíram em 64 uns, em 69 os restantes. Um guarda, Joaquim Lopes, cabo-verdiano e convertido ao PAIGC. Uma das raras pessoas que testemunhou a vida no Tarrafal desde a sua abertura ao seu encerramento, Eulália Fernandes de Andrade, mais conhecida por D. Beba.

É um documentário feito à base de depoimentos e filmado quase sempre no interior do campo, afinal, o espaço em que os presos se moviam. Entre as raríssimas excepções, o cemitério, onde acompanhamos a homenagem dos sobreviventes aos que ali ficaram. Vozes, caras expressivas contra fundo de cela. Alguns objectos surpreendentes: as calças rasgadas pelo chicote e puídas pelo chão prisional, a planta do campo desenhada num osso de vaca, a bengala que testemunha o resultado da tortura. A alegria de se verem lembrados em duas exposições nas celas que tinham ocupado.

* com imagem de João Ribeiro, som de Armanda Carvalho e montagem de Cláudia Silvestre

(Clicar para ler)

Não é a primeira vez que Hans Küng critica o pontificado de Bento16, mas fá-lo com uma especial clareza e veemência numa «Carta aberta aos bispos católicos de todo o mundo», publicada hoje em El País.

Agora com 82 anos, começa por recordar que ele e Ratzinger foram os dois teólogos mais novos do Concílio Vaticano II, e descreve depois, detalhadamente, os motivos da desilusão que tem vindo a ter com a actuação do seu ex-colega na Universidade de Tübingen, que não só «relativiza os textos conciliares e os interpreta de forma retrógrada (…) como se situa expressamente contra o concílio ecuménico que, segundo o direito canónico, representa a autoridade suprema da Igreja católica».

Pararia por aqui aconselhando apenas mais uma leitura, não fosse dar-se o caso de me lembrar muito bem de Hans Küng e de Ratzinger durante o Vaticano II, não só pelo que escreveram e subscreveram (já  lá chego), mas porque o primeiro esteve em Portugal em Abril de 1967, para fazer duas conferências, uma em Lisboa e outra no Porto sobre «A liberdade dentro da Igreja». Eram tão «revolucionárias» então as esperanças que sobravam do Concílio, encerrado dois anos antes, que os eventos em questão até meteram PIDE, identificação de matrículas de carros, entre as quais o de Mário Soares, etc. etc. (Escrevi em tempos algo sobre este assunto, que os mais interessados poderão ler aqui.)

Mas o que me interessa é chegar a Ratzinger, numa tentativa para que se entenda de onde ele vem, o que talvez permita uma melhor leitura da «desilusão de Hans Küng e uma menor «desculpa» para as posições que o papa hoje toma.

Como é sabido, houve uma clara retracção a nível de Roma nos anos que se seguiram ao encerramento do Vaticano II. Mas o que é menos conhecido é que existiu então um fortíssimo movimento de teólogos que não se conformaram com os factos e que reivindicaram o seu direito à liberdade de pensamento e de expressão dentro da Igreja. Exprimiram-no num documento publicado simultaneamente num jornal italiano e num outro alemão, em 16 de Dezembro de 1968: «Declaração sobre a liberdade e a função dos teólogos na Igreja». O texto chegou a 1.360 assinaturas, mas os promotores foram 38 – os principais e mais avançados teólogos ligados ao Concílio, entre os quais Hans Küng, claro, mas também… Joseph Ratzinger. Não é fácil encontrar o referido documento e coloquei-o por isso online.
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Almanaque Republicano – Documento histórico – Comissão de resistência da Maçonaria

 

Vítor Dias – Sobre o novo documentário de Susana de Sousa Dias – «48»

 

Pedro Martins – Cartas para o Q.

Jorge Semprún, no 65º aniversário da libertação dos presos de Buchenwald.
(El País)

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José Teixeira – Faz hoje 40 anos que regressei da Guiné, mas o meu espírito vagueia naquelas tabancas

 

Guilherme d’Oliveira Martins, “A Identidade Nacional” de José Mattoso

 

A.Teixeira – Os símbolos da propaganda

 

Joana Lopes – Roma, cidade fechada



Por iniciativa da Câmara Municipal de Lisboa e da Fundação Mário Soares, está a decorrer uma série de dezoito colóquios, no âmbito das comemorações do centenário da República.

A brochura com o Programa e Textos de Apoio (com muitas imagens) é magnífica e está online em formato PDF.Vale por si.

El juez Varela sentará a Garzón en el banquillo por su causa al franquismo

Um recorte de um velho Diário Popular fez-me recuar mais de quarenta anos, até 1969. Nele se lê que, nesse ano, as lojas passaram a vender um número absolutamente inusitado de calças a mulheres de todas as idades (Para ler, clicar na imagem.) Nesse fim de década, os costumes não eram o que até aí sempre tinham sido, Salazar já tinha caído da cadeira e, apesar das notícias filtradas, Paris e as barricadas do Maio de 68 não tinham estado tão longe como a Nova Zelândia.

Mas o que é mesmo curioso é a fotografia e respectiva legenda: «As alunas da Faculdade de Letras já ganharam a sua batalha». Não é dito qual era a batalha nem qual foi a vitória, talvez porque um lápis azul da censura tenha cortado a explicação ou porque esta foi evitada para escapar ao dito lápis. Mas eu explico.

Dava então aulas em Filosofia e a prática corrente quanto a indumentária feminina era a seguinte: só às estrangeiras, que frequentavam cursos de língua portuguesa, era permitido usar calças e a triagem era feita pela Sr.ª Clotilde. Várias gerações se lembrarão desta zelosa empregada, sempre presente pelos corredores, movendo-se lentamente dentro de uma bata preta acetinada. Quando avistava pernas femininas revestidas, aproximava- se e perguntava em voz muito baixa: «A menina é estrangeira?». Ausência de compreensão, e portanto de resposta, era interpretada como afirmativa e a autorização era tácita, mas tinha ordens para pedir às portuguesas que abandonassem as instalações da Faculdade.

Uma parte desse ano de 69 foi animadíssima na Cidade Universitária – como o foi (e de que maneira…) em Coimbra e nalgumas outras faculdades de Lisboa. Uma lista encabeçada por Arnaldo Matos ganhou a presidência da Associação de Direito (contra Alberto Costa, o ex-ministro da Justiça, então do PCP) e aqueles que viriam a fundar pouco depois o MRPP mantinham em agitação permanente, directa ou indirectamente, o conjunto das três faculdades vizinhas: Direito, Letras e Medicina. Multiplicavam-se os plenários e recordo-me especialmente de um que teve lugar no Hospital de Santa Maria, com milhares de estudantes e alguns (poucos) professores – tão poucos que, de Letras, apenas Lindley Cintra e eu nos pusemos a caminho, debaixo de um mesmo chapéu-de-chuva, insuficiente para impedir que chegássemos ao destino encharcados dos pés à cabeça. Aí foi decretada uma greve e, enquanto ela durou, é óbvio que a Srª Clotilde se recolheu atrás de uma secretária, num corredor longe do átrio, e que toda a gente fez assembleias por todos os cantos, com calças, saias e mini-saias. Não sei se os objectivos pela qual a greve foi convocada terão sido minimamente atingidos (para ser sincera, nem me lembro exactamente o que poderão ter sido…), mas ela teve, garantidamente, um benefício colateral: as calças entraram em Letras para sempre e ficaram como direito feminino adquirido. Ou seja, foi ganha a tal batalha que a fotografia refere sem explicar.

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Jorge Nascimento Fernandes – O Dia do Estudante de 1962. Um percurso pessoal (1) e (2)

 

Carlos Bobone – Miguel Bombarda: como se fabricou um mártir da república

 

J. M. Martins – Discurso da proclamação da República – Jornadas culturais da Esc. Dr. Joaquim de Carvalho

 

Irene Pimentel – O Tribunal Plenário, instrumento de justiça política do Estado Novo

Em exposição, a partir de hoje, 31 de Março na Torre do Tombo.

Notícia no Público de hoje. A ver também, no mesmo jornal, esta excelente apresentação.

«EL SUPREMO AVALA JUZGAR A GARZÓN POR INVESTIGAR EL FRANQUISMO»

«La Sala de lo Penal del Tribunal Supremo ha confirmado la decisión del magistrado Luciano Varela de no archivar la causa que se sigue contra Baltasar Garzón por declararse competente para investigar los crímenes del franquismo. Es el golpe de gracia que despeja la vía para sentarlo en el banquillo al magistrado por un delito de prevaricación.»

E as reacções Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica:
«NOS SENTAREMOS CON ÉL EN EL BANQUILLO»”
«La Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica (ARMH) ha lamentado el nuevo jarro de agua de fría que supone el rechazo del recurso presentado por el juez Garzón para defender su investigación sobre los crímenes del franquismo. “Si se sienta en el banquillo, se estarán sentando con él miles de hombres y mujeres que llevan décadas esperando a la justicia y que no han podido todavía ejercer sus derechos”, aseguran en un comunicado.
El colectivo lamenta que Garzón “vaya a ser juzgado por haber cumplido el deber de cualquier representante de la justicia de investigar los crímenes de la dictadura franquista”, mientras , añaden, “los violadores de derechos humanos se mueren disfrutando de privilegios como la impunidad”.
“El sistema judicial español lleva prevaricando más de tres décadas porque no ha sido capaz de juzgar ninguno de los miles de asesinatos y violaciones de derechos humanos cometidos por la dictadura”, añaden en un comunicado. La Asociación para la Recuperación de la Memoria Histórica considera que quienes han prevaricado son los jueces de primera instancia que al notificarles el hallazgo de restos humanos con signos de muerte violenta (impactos de bala, huesos rotos…) no han acudido a las fosas y han abierto una investigación.»

Para além dos dois testemunhos já publicados, divulga-se hoje mais um (*).

 

Rui d’Espiney
Dirigente da Comissão Pró-Associação dos Liceus

 
(*) A Crise Académica de 62, Fundação Mário Soares, 2007 (dvd)

A ler: La fractura política argentina empaña los actos de condena de la dictadura

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Daniel Nunes Mateus – 100 anos da República: portugueses de Macau influenciaram passado da China

 

Guilherme d’Oliveira Martins – Até à vista, Pepin!

 

Luís Graça, Núcleo Museológico Memória de Guiledje (16): Um dia de ronco, uma janela de oportunidades (Parte I)

 

Almanaque Republicano, Carlos Campeão dos Santos

 

A.Teixeira – O “Grelhador” de Ohrdruf

Para além de um texto de José Augusto Rocha, que acabámos de publicar, divulgam-se hoje testemunhos de protagonistas, recolhidos em 2007, por ocasião do 45º aniversário dos acontecimentos (*).

 

Isabel do Carmo
Membro da Comissão da Pró-Associação
da Faculdade de Medicina de Lisboa

 

Jorge Sampaio
Secretário-Geral da RIA (Reunião Inter-Associações)

 
(*) A Crise Académica de 62, Fundação Mário Soares, 2007 (dvd)

A ler, no Público.es: Argentina recobra la memoria para juzgar la dictadura.

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A.TeixeiraFotografias de guerra

 

Guilherme d’Oliveira Martins, A vida dos livros

 

Um homem na cidade O meu bairro

 

José M. Martins – Campo de concentração de Miranda de Ebro

Por notícia difundida pela Lusa esta manhã, soubemos que a Placa «ia mudar de sítio» devido aos protestos do movimento «Não Apaguem a Memória!».

Entretanto, foi de facto recolocada mas em local igualmente pouco visível e sem as letras pintadas, como tinha sido exigido, o que a torna praticamente ilegível.

 
Um poema de Alda Espírito Santo

 
As palavras do nosso dia

são palavras simples

claras como a água do regato,

jorrando das encostas ferruginosas

na manhã clara do dia-a-dia.

 
É assim que eu te falo,

meu irmão contratado numa roça de café

meu irmão que deixas teu sangue numa ponte

ou navegas no mar, num pedaço de ti mesmo em luta

[com o gandu

 
Minha irmã, lavando, lavando

p’lo pão dos seus filhos,

minha irmã vendendo caroço

na loja mais próxima

p’lo luto dos seus mortos,

minha irmã conformada

vendendo-se por uma vida mais serena,

aumentando afinal as suas penas…

É para vós, irmãos, companheiros da estrada

o meu grito de esperança

convosco eu me sinto dançando

nas noites de tuna

em qualquer fundão, onde a gente se junta,

convosco, irmãos, na safra do cacau,

convosco ainda na feira,

onde o izaquente e a galinha vão render dinheiro.

Convosco, impelindo a canoa p’la praia

juntando-me convosco

em redor do voador panhá

juntando-me na gamela

vadô tlebessá

a dez tostões.

 
Mas as nossas mãos milenárias

separam-se na areia imensa

desta praia de S. João

porque eu sei, irmão meu, tisnado como eu p’la vida,

tu pensas irmão da canoa

que nós os dois, carne da mesma carne

batidos p’los vendavais do tornado

não estamos do mesmo lado da canoa.

 
Escureceu de repente.

Lá longe no outro lado da Praia

na ponta de S. Marçal

há luzes, muitas luzes

nos quixipás5 sombrios…

O pito dóxi6 arrepiante, em sinais misteriosos

convida à unção desta noite feiticeira…

Aqui só os iniciados

no ritmo frenético dum batuque de encomendação

aqui os irmão do Santu

requebrando loucamente suas cadeiras

soltando gritos desgarrados,

palavras, gestos,

na loucura dum rito secular.

 
Neste lado da canoa, eu também estou irmão,

na tua voz agonizante, encomendando preces, juras,

[ Maldições.

 
Estou aqui, sim, irmão

nos nozados7 sem tréguas

onde a gente joga

a vida dos nossos filhos.

Estou aqui, sim, meu irmão

no mesmo lado da canoa.

 
Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela.

Queremos unir as nossas mãos milenárias,

das docas dos guindastes

das roças, das praias

numa liga grande, comprida

dum pólo a outro da terra

p’los sonhos dos nossos filhos

para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa.

 
E a tarde desce…

A canoa desliza serena,

rumo à Praia Maravilhosa

onde se juntam os nossos braços

e nos sentamos todos, lado a lado,

na canoa das nossas praias.

 
(in «É nosso o solo sagrado da terra»)

 
Desenho e poema tirados daqui.

 
Foram raríssimas as alusões que hoje encontrei ao 35º aniversário (número redondo…) de um dia que foi decisivo para este país.

Não vou regressar a relatos dos acontecimentos, bem conhecidos (ou talvez totalmente ignorados pelos mais novos…), nem pretendo abrir aqui uma caixa de Pandora, embora ainda não tenha perdido a esperança de ver um dia, quem sabe se neste blogue, uma discussão séria e certamente muito polémica sobre o PREC – o que foi, e talvez sobretudo, o que poderia ter sido e acabou por não ser.

Questão incómoda, varrida para baixo de muitos tapetes, uns tecidos de saudosismos irredutíveis, outros de condenação sem reservas como se a nossa democracia pudesse ser o que é, para o mal mas também muitíssimo para o bem, caso tivesse sido possível «saltar» do 25 de Abril de 74 para o 25 de Novembro de 75 ou, pelo menos, apagar o 11 de Março e os oito meses e meio que se seguiram.

Quem tem idade para recordar lembrar-se-á dos ambientes absolutamente alucinantes em que tudo acontecia, sobretudo a partir de 14 de Março, quando foi criado o Conselho da Revolução e se deu a nacionalização da Banca e dos Seguros. Mas talvez tenha esquecido algumas reacções, bem significativas e provavelmente úteis quando revisitadas a trinta e cinco anos de distância:

«As nacionalizações são saudadas à esquerda e não são contrariadas à direita. O PPD apoio-as, aliás, embora previna que “substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de Estado não resolve as contradições com que se debate hoje a sociedade portuguesa”.
Mário Soares mostra-se mais expansivo. Eufórico mesmo, considerando aquele “um dia histórico, em que o capitalismo se afundou”. Dirá, a propósito o líder socialista, num comício: “A nacionalização da banca, que por sua vez detém (…) a maior parte das acções das empresas portuguesas e, ao mesmo tempo, a fuga e prisão dos chefes das nove grandes famílias que dominavam Portugal, indicam de uma maneira muito clara que se está a caminho de se criar uma sociedade nova em Portugal”.» (Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, Os dias loucos do PREC, p. 28).

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Centenas de novos documentos evocam a vida dos presos nos campos de concentração da ditadura.

A ler em El País.

Integrada numa série de actividades previstas para este ano, está disponível para recolha de assinaturas, num site criado para o efeito, uma petição com o seguinte objectivo:

«Na passagem dos 40 anos sobre a data da sua constituição impõe-se o reconhecimento público e oficial do Estado democrático, pela Assembleia da República, da relevante intervenção cívica que protagonizou, na defesa de todos aqueles que pagaram com a sua própria liberdade a insubmissão aos ditames arbitrários do regime fascista a que a Revolução de Abril de 1974 pôs termo.»

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*** Pedro Coelho – Memória de um Amigo

*** J. M. Martins – António Xavier Correia Barreto – Nota breve

*** Hugo Guerra – Como morreu o meu prisioneiro

*** Renegade – Portugal nas tricheiras

«A mis hijos les gustaba escuchar el cuento de Gloria Fuertes El mundo al revés. Varios años después me vuelve a la memoria al observar la situación de nuestro país.

Hace ahora 73 años, Augusto Lao García fue arrancado de su vivienda y de su familia y fusilado cuando contaba con 32 años de edad. Su delito era haber trabajado desde que tenía uso de razón y tener un espíritu comprometido, cofundando un partido político. Jamás empuñó un arma. Ellos formaron parte de los cientos de miles de víctimas de un plan criminal para acabar con la República y con sus valores. Más de 70 años después, el juez Baltasar Garzón vive un calvario y podría sentarse en el banquillo por haber promovido la justicia que las víctimas del franquismo reclaman y que, durante tanto tiempo, nadie se atrevió a instruir. La acusación parte, ni más ni menos, que de la Falange Española y otros grupos nostálgicos del franquismo.

Tras 32 años de democracia, las calles de nuestros municipios siguen homenajeando, con su denominación, a miles de falangistas y militares rebeldes. En las cunetas de nuestros campos se amontonan miles de restos que no tienen derecho ni a una digna sepultura.

La sombra del franquismo está resultando demasiado larga y su propaganda aún produce efectos. Algo en este país no va bien y no es sólo su economía. Esta España nuestra sigue al revés.»

Canal História

Quarta-feira 3 de Março, 22:00h
Quinta-feira 4 de Março, 6:00h e 14:00h
Sábado 6 de Março, 15:00 e 23:00h
Domingo 7 de Março, 7:00

 
Em 1940 os Estados Unidos fazem todo o possível para permanecer à margem da II Guerra Mundial. O imigrante austríaco Jack Werner foge dos nazis e chega aos Estados Unidos, onde se alista no exército para poder fazer parte da luta contra Hitler. Outros homens jovens, como Archie Sweeney, um jornalista, entram no exército após serem recrutados. Depois de Pearl Harbor, os Estados Unidos vêem-se mergulhados numa guerra de duas frentes e encontram-se mal preparados para o combate. O repórter de guerra Richard Tregaskis desembarca com os marines na ilha de Guadalcanal. O graduado Charles Scheffel casa-se apressadamente antes de ser enviado para o Norte de África.

(Via António Loja Neves, Actual, Expresso, 27/2)