Por ocasião do 40º aniversário das eleições legislativas de 1969, decidimos fazer esta pergunta a nós próprios – os nove redactores deste blogue. As respostas revelam bem a variedade dos nossos passados.
Artur Pinto – Nas «eleições» de 1969 estava a cumprir o serviço militar. Participei tão activamente quanto pude, uma vez que já tinha uma prisão atrás de mim, em 1965, e a informação da PIDE foi-me acompanhando. E, como já tinha tido sido castigado por duas vezes, não me podia permitir grandes aventuras. Mas participei dando o meu apoio logístico em serviço nocturno na sede, ali ao Campo Pequeno. E é curioso referir que enquanto eu e a minha Mãe militávamos na CDE, o meu Pai, fiel às suas amizades, em particular com Soares e Zenha, apoiou a CEUD. Mas mais curioso é o facto de se ter afastado de Soares após o 25 de Abril, para virar à esquerda. A minha actividade e aprendizagem política prática tinham começado nas «eleições» do Delgado, tinha eu 16 anos, continuado na Crise de 1962, até à prisão em 1965. Mas a experiência da CDE foi particularmente importante pelo convívio que tive com figuras destacadas da Oposição. E lembro com saudade Sottomayor Cardia, que eu já conhecia da Crise Académica, um homem de grande cultura, saber e, até, coragem, sobretudo atendendo à sua fraca compleição física. Uma noite em que houve algumas provocações pidescas à porta da CDE, ele não hesitou em vir à rua comigo e defender os companheiros vítimas da provocação. Queria mesmo apresentar queixa, do que foi dissuadido. Como lembro o andar pelas casas dos amigos, noite dentro, a entregar propaganda para estes distribuírem. E dizer que foi com alguma surpresa que dois ou três oficiais do quadro, sabendo das minhas ideias, me abordaram para colher informações e propaganda. Um deles viria a ser um participante activo ao comando de uma das colunas militares em Abril de 1974. Afinal, ao fim de cinco anos, acabámos por ganhar mesmo as eleições.
Diana Andringa – Sendo Domingo, estava, provavelmente, em Peniche, a visitar o Alexandre. Teria provavelmente ido na véspera, como a Lena, a Graça e a Manuela, habituais companheiras desses fins de semana de «turismo prisional» e encontrado a Maria Emília Brederode, a Nita Feronha, a Zé Catanho, que visitavam no Forte os seus irmãos. Terei quase certamente desabafado com o Alexandre o desgosto pelo meu recente trabalho como copy-writer na Ciesa NCK, depois da demissão colectiva da Vida Mundial, onde fora tão exaltante trabalhar. Teremos voltado a falar dessa demissão que me ensinara tanto sobre solidariedade, e cuja razão sentia ligada às eleições e às disputas entre CEUD e CDE. Teremos talvez discutido, na vigiada conversa no Parlatório, a forma como as candidaturas de Oposição tratavam a questão colonial – e a exigência de um corte radical com a ideologia colonialista. Faltavam três meses para ser presa, Angola estava-me mais próxima que Portugal.
Em frente da porta, do lado de fora, terei talvez comprado uma batata-doce assada ao vendedor de castanhas. Afinal, era esse o sabor do Outono em Peniche.
Helena Pato – Lembro-me tão bem do 26 de Outubro de 1969! Durante o dia, sentada na mesa de voto da freguesia de Santa Maria dos Olivais, eu não tirava os olhos da urna dos votos e o grupo de velhos pidescos e ranhosos da União Nacional, que constituía a mesa, não tirava os olhos de mim – um olhar que parecia de nojo por eu ser mulher, uma garota, e estar ali delegada de uma lista da oposição. À noite, na sede nacional da CDE, no Campo Pequeno, troquei reflexões, notícias e nervoso, muito nervoso, com os companheiros da Comissão Política com quem reuni. Do Lindley Sintra e do Pereira de Moura tenho uma saudade imensa. Não me esqueço do arguto e obstinado Sottomayor Cardia remando contra a nossa maré. Já os outros, mal eu sabia que, um dia, haveria de os ver quase todos pela Assembleia da República interpelando-se na «defesa da honra da bancada» – e todos em diferentes bancadas, da esquerda claro está… –, ou passando revista às tropas num quartel, ou dando brilho a um governo, ou falando em Belém ao Povo, com a bandeira portuguesa de um lado e a da Comunidade Europeia do outro. Enquanto isso, eu ficava cada vez mais mulher e cada vez mais mãe. O eterno desgraçado destino de quem nasce no feminino. Porém, irremediavelmente apaixonada pela vida política e cegamente enterrada na profissão que, por maus motivos, agora mais brado dá neste país.
Joana Lopes – Estive ligada às eleições de 1969 desde o mês de Janeiro, quando foi formada a «Comissão Promotora de Voto» para a qual fui recrutada pelo então meu aluno Jaime Gama.
Fazia parte da direcção do Centro Nacional de Cultura, que, em jeito de preparação remota para as eleições de Outubro, organizou em Março Lusitania Quo Vadis?, um conjunto de três colóquios que foram objecto de intervenções da polícia e palco de inacreditáveis peripécias.
Vivi mais tarde, nos bastidores, um dos momentos mais dramáticos da cisão CDE / CEUD, numa reunião relativamente restrita em casa de Salgado Zenha. Durante a campanha, «andei por aí», a falar em sessões de esclarecimento da CDE, sendo hoje totalmente incapaz de me lembrar de uma única palavra do que poderei ter dito… Na última noite, estive algures numa colectividade em Benfica, numa mesa presidida pelo Sottomayor Cardia. Quando terminaram as intervenções – impreterivelmente antes da meia-noite – Cardia sussurrou-me ao ouvido: «Srª Drª, entoe!» Olhei-o atónita e ele completou: «O hino!». Lancei então um «Heróis do mar» tão afinado quanto consegui, mas com uma enorme e mal contida vontade de rir. No dia 26, passei pela sede da CDE, onde Nicolau Breyner se passeava como sempre como os seus cães de guarda para garantir a segurança. Depois fui votar pela primeira vez na minha vida – e última até 25 de Abril de 1975.
João Tunes – Cheguei à Guiné em Maio de 1969. Depois de um período de estacionamento num quartel de Bissau, Outubro desse ano, quando veio, arrastou a minha deslocação para o «mato». Mais precisamente para o norte, para o Pelundo, um quartel situado numa aldeia no coração do «chão manjaco» (onde estava localizada uma etnia animista e com uma cultura riquíssima). Ali, Spínola alimentava o sonho de corromper os guerrilheiros do PAIGC que actuavam na zona e, com um fraccionamento nas forças de libertação, vibrar um golpe na capacidade militar e na moral dos independentistas guineenses. O resultado é conhecido: o PAIGC alimentou a encenação do «namoro» até, em Abril de 1970, desferir um golpe em que decapitou o exército colonial de alguns dos seus melhores oficiais colocados no teatro operacional da Guiné. Na data em questão, eu estava no Pelundo, uma aldeia manjaca a viver a paz podre que resulta do jogo táctico-traiçoeiro de uma guerra em compasso de espera para ver quem melhor engana para não ser enganado. Mas estava na guerra colonial e no «mato» da Guiné. Exactamente num sítio e em circunstâncias que era antípoda de todos os sítios e situações em que desejava estar. O que me deu uma sensação de solidão triste de que só me libertei quando sai da Guiné e, muito mais tarde, fiz a paz com a minha memória libertando-me para a disponibilidade de fruir as boas e felizes solidões.
Mª Manuela Cruzeiro – Estava em Coimbra, no refluxo da histórica Crise Académica, tentando gerir, a nível colectivo, a dura constatação de que não fora ainda então que tínhamos conseguimos «mudar o mundo» e, a nível pessoal, a ida para a tropa, como castigados, do meu namorado, do meu irmão e de mais umas dezenas de amigos e companheiros – afinal os principais quadros do movimento, cuja despedida emocionada na Estação Nova foi ocasião para a primeira manifestação anti-colonial estudantil em Coimbra. Por tudo isto, ou porque a minha preparação política era muito deficitária, as eleições de 69 foram uma espécie de chamada à realidade de que a luta contra o fascismo tinha várias frentes. E nem todas tão radicais e exaltantes como aquelas que eu conhecia.
Miguel Cardina – Estava longe. Tinha pedaços do que viria a ser espalhados por Angola e Moçambique. Gente nova, distante dos cenários de guerra, a viver uma vida de europeus remediados. Quando nasci, uma década depois, talvez se julgasse que Outubro de 69 havia ficado do lado de lá da curva da história. Talvez. A verdade é que eu ainda continuava longe. E hoje, quando me aproximo desse tempo, a questão não é tanto a de saber onde estava se pudesse estar, mas como estiveram os que lá estiveram. E, já agora, como estiveram aqueles que se reivindicavam ou que viriam a pertencer ao campo plural e ainda inorgânico da extrema-esquerda. Não é saudosismo do que não se viveu ou vontade de identificação com uma área política. É que tenho de falar disso na próxima semana e toda a informação é bem-vinda.
Raimundo Narciso – Vivíamos há mais de um ano em Vale de Lobos, perto de Belas, e a Maria estava a um mês de ter a nossa filha. Eu era «um desenhador de máquinas a trabalhar em Lisboa», a família era ordeira e de boas contas e ninguém ia pôr-se a pensar que éramos um subversivo casal de comunistas a viver na clandestinidade, ia para 5 anos.
Obrigados a sair dali rapidamente e sem deixar rasto – descobrira uma pessoa da minha terra natal a viver na aldeia – passei o dia 26 de Outubro pelas ruas de Alcabideche a tentar alugar uma casa escondida mas não em excesso.
Alcabideche abrigou-nos cerca de dois anos e não mais porque receámos o atrevido namoro político de um jovem casal nosso vizinho: «ontem a rádio Moscovo dizia que na Guiné os guerrilheiros abateram um helicóptero dos nossos». E diziam isto sem sombra de patriotismo! Nós garantíamos que «a nossa política era o trabalho» apesar de ser exactamente o contrário! Incautos anti-fascistas ou provocadores? Aí por 1975, já sem o peso do fascismo em cima das nossas vidas, procurámos tirar o caso a limpo. Confirmámos a primeira versão.
Rui Bebiano – Em Outubro de 1969 tinha 16 anos e acabava de chegar a Coimbra para concluir o liceu. O que chamamos de consciência política era então, em mim, qualquer coisa de muito nebuloso ainda. Mas tinha algumas informações e meias-certezas. Lembrava-me vagamente da campanha de Delgado – muito vagamente, claro –, mas o suficiente para saber que se tratava de um combate dos bons contra os maus. E como na luta entre cowboys e índios sempre preferi ser índio (modéstia à parte, naturalmente), estava do lado dos bons, que precisavam esforçar-se muito para que toda a gente se juntasse a eles para um dia vencerem os maus. Sabia da luta estudantil que rebentara uns meses antes e das suas razões. Acima de tudo, conhecia já o suficiente de um país triste e envelhecido, da guerra interminável, das desigualdades, da pobreza, das fugas «a salto», das prisões, da porrada da polícia, do medo. E da necessidade de fazer alguma coisa para mudar tudo aquilo. Como ainda não era senão um jovem da província simpatizante do reviralho, fui algumas vezes sozinho à sede da CDE e pedi alguns papéis para meter por debaixo das portas. No dia das eleições, como não podia votar e «adivinhava» o resultado, fiquei em casa. Sendo domingo, devo ter passado a tarde a ouvir o relato do futebol. À noite dei uma volta pela cidade e parecia-me tudo como dantes. Engano meu.
Domingo, 25.Out.2009 at 01:10:36
Aos 9 redactores deste post:
Muito obrigado pelos “Caminhos da Memória”… muito obrigado pela partilha das vossas vivências e das vossas memórias… em 26 de Outubro de 1969, com 6 anos de idade, presumo que estaria a pensar no dia seguinte como dia de escola… há coisas assim, continuidades… hoje, depois de ler este vosso post, continuo a sentir que todos os dias se aprende… com a vida, os testemunhos e a generosidade.
Bem-hajam!
Domingo, 25.Out.2009 at 03:10:34
li as vossas experiências deliciado, eu que por essa altura tinha acabado de entrar para a primeira classe da escola primária.
foi mais ou menos por essa altura que percebi que havia qualquer coisa de errado, no país, apenas porque os meus pais escondiam um livro de capa cor de laranja, misturado com roupa, num dos armários da sala (católicos e política), da autoria de um primo direito da mãe (padre Felicidade Alves) de quem se falava pouco, penso que para o proteger (o medo estava sempre presente, embora eu nem sempre o presentisse, dentro dos meus sete anos) e que só emprestavam a pessoas de confiança…
Domingo, 25.Out.2009 at 04:10:21
Nessa altura, ainda não era nascida, mas é sempre um enorme prazer tomar contacto com estes testemunhos. No fundo, testemunhos como estes acabam por reforçar ainda mais o prazer e o orgulho que sinto por viver, expressar-me e votar em liberdade.
Domingo, 25.Out.2009 at 06:10:06
Aos três comentadores anteriores, agradeço em nome do «colectivo». É para nós um grande prazer saber que os mais novos se interessam pelo que aqui vamos pondo – ainda ontem conversámos sobre esse assunto.
Luis Eme: esse livro cor de laranja de que fala está um metro atrás da minha secretária. Gosto muito de saber que é familiar do Pe. Felicidade.
Domingo, 25.Out.2009 at 06:10:57
Estava a meio da comissão na Guiné. Apesar de estar nas Transmissões nem dei pelas eleições. Só mais tarde é que comecei a saber alguma coisa. Nessa altura as noticias demoravam a chegar, principalmente as que não interessavam ao poder instalado. E a tropa não podia nem devia saber destas coisas da politica.Era assim. Mas ´muitos de nós desconfiávamos. Alguns sempre iam recebendo cartas que davam tópicos. Naquele tempo era assim.
Domingo, 25.Out.2009 at 08:10:13
Pedem umas memórias das eleições de 1969. Sei que foi a primeira vez que votei, votei na CDE. Os meus pais, que nessa altura tinham cerca de 60 anos e eram funcionários públicos, foram também votar pela primeira vez e fizeram-no na CDE. Hoje, tento recordar e lembro-me de estar organizado num pequeno grupo de bairro, para os lados da Graça, em que entrava o José Manuel Carvalho, que penso que o Artur Pinto conhece do Gil Vicente, a companheira e um “amigo” já maduro, trabalhador dos telefones ou da electricidade, que depois do 25 de Abril, fui encontrar no PCP. Três jovens intelectuais e um trabalhador. Reunimo-nos algumas vezes para distribuir propaganda e recolher fundos. No local onde fazia uns biscates para reforçar a mesada andei a fazer o mesmo. Houve um que me disse que me dava uma pequena contribuição por ser eu a pedir, não por ser a CDE, houve outros que deram sem pestanejar.
Porque trabalhava com gente da CP (Caminhos de Ferro) lembro-me da descrição que me fizeram da paralisação da Estação do Rossio, em que um candidato pela CDE, operário daquela empresa, de quem já não me recordo o nome, pôs a cabeça no rail para impedir que os comboios circulassem. Essa descrição comoveu-nos, foi arriscada e perigosa. Muitos mais factos há a relatar eles pertencem, no entanto, à história. Os historiadores que os estudem.
Domingo, 25.Out.2009 at 10:10:31
Começo por agradecer a tua resosta ao meu “convite”. Mas entro para te lembrar o nome do ferroviário: Firmino, Firmino dos Santos. Andava sempre de boné à Lenine e encabeçava todas as lutas que lhe passassem por perto.Uma figura inesquecível de democrata de acção. Um tipo já cinquentão, de rara coragem, mesmo desafiador.
Um abraço, Jorge
Segunda-feira, 15.Mar.2010 at 01:03:28
Minha querida amiga Lena esse Firmino dá pelo nome de Martins e não Santos. Firmino Martins o mais célebre animador dessa grandiosa luta dos ferroviários em 1969 – o temerário Firmino – atirou-se à linha, desafiou e parou o comboio ”amarelo” que ameaçava furar a greve. Como bem diz o Jorge Nascimento atirou a cabeça ao carril e ganhou a partida. A PIDE é que não estava ali para aplaudir heroísmos, tomou boa nota do caso e fez jus à sua reputação, prendeu-o e torturou-o. O organizador dessa grandiosa luta dos ferroviários foi Carlos Domingos, então funcionário clandestino do PCP – uma vida que dava um romance, trágica nalguns dos seus momentos – foi o principal orador no 40º aniversário da luta dos ferroviários promovida recentemente pelo respectivo sindicato.
Disse PIDE mas disse mal pois Marcelo Caetano, padrinho do nosso omnipresente professor Marcelo Rebelo de Sousa, não se dispondo a mudar as coisas mudou-lhes em todo o caso os nomes e a “incompreendida” PIDE foi crismada de Direcção Geral de Segurança – DGS, um nome mais anódino e (ainda)sem história.
Domingo, 25.Out.2009 at 11:10:44
Encontramo-nos também aqui, Jorge, embora não nos conhecêsseemos então – mas isto era pequeno…
Domingo, 25.Out.2009 at 11:10:58
Ao ler-vos, comentados e comentadores, emocionei-me.
Eu tinha 4 anos. Não me recordo de rigorosamente nada e deixei, há pouco, de poder contar com a memória e as memórias do meu pai, ferroviário e que fez parte das listas da CDE – tal como participou na campanha do Delgado. Recordo-me, no entanto, distintamente de o ouvir contar a história do seu amigo Firmino Miguel e isso, agora, emocionou-me. Um muito obrigada a todos.
Domingo, 25.Out.2009 at 11:10:53
Io,
Já tínhamos em tempos falado do seu pai e lamento que o tenha perdido.
Nós é que lhe agradecemos a sua presença nesta «casa».
Domingo, 25.Out.2009 at 11:10:39
Eu tinha participado activamente na campanha da CDE de Lisboa – e nos tempos imediatamente anteriores tinha estado em reuniões diversas, talvez mesmo mais estilo plenários – mas sempre num plano de elemento de base. Não aceitava candidaturas a qualquer representatividade da Comissão de Base de Arroios.
Acho que concitei alguma simpatia política e uma apreciação positiva da minha participação. De tal forma que chegou a acontecer, mais tarde, quando aceitei ser eleito, tê-lo sido por unanimidade. Com uma abstenção apenas, a minha.
A nossa comissão tinha organizado a distribuição do voto (cada lista tinha o seu boletim próprio) por todas as habitações da Freguesia. Julgo que poucas teriam faltado. Posso calcular que, nessa tarefa, foram mobilizados uns 60 a 80 camaradas. Não quero chamar-lhes “pessoas”. Além disso, no dia das eleições, tínhamos colocado um posto de distribuição de boletins a quem passava (e aceitava) a caminho do Liceu Camões. Isso, na rua Almirante Barroso, à distância a que a lei nos obrigava.
Na desembocadura da rua Escola Medicina Veterinária estava um grupo da lista monárquica, em que se encontrava um matulão impagável que falava do grito do Ipiranga e doutras coisas interessantes para a circunstância. O espírito de solidariedade, levou-me a dar-lhes um cartão onde escreveram e exibiram a indicação da sua Candidatura e da sua distribuição de boletins.
Não dei conta ou não me lembro de que houvesse por ali um posto idêntico da CEUD.
Um parênteses: na esquina da av. Duque de Loulé com a Praça José Fontana, havia um pequeno prédio (e há?), com um ou dois andares, encimado por um murete que bordejava todo o telhado. Em frente, num prédio alto, e, se não estou em erro, no último andar, morava uma jovem camarada (bem bonita a rapariga), estudante, rodeada de jovens com as mais animadas motivações. Pois essa jovem contou-me (repito, contou-me e não sei se é verdade, mas não vejo razão para duvidar) que, por detrás daquele murete, estava montada uma ou duas metralhadoras (não me lembro) com o devido pessoal. Também “as autoridades” tinham pedido “autorização” para montarem uma antena de rádio no cimo daquele tal prédio alto que estava em frente.
Ainda hoje me interrogo: uma metralhadora ali, no enfiamento daquela rua Escola veterinária, com aquele pequeno grupo de alegres e agitados monárquicos em frente! Para quê e porquê.
Havia a “informação”, nos meios da CDE, de que estivadores, da comissão sócio-profissional própria, (creio) e não sei se mais camaradas constituíam uma espécie de piquete móvel de protecção. Se necessário. E às tantas, no decorrer do dia, constou que uma carrinha da polícia de choque, com o seu capitão Maltez (o tal que no decorrer no 25 de Abril aderiu ao golpe e que Otelo pôs a regular o trânsito num ponto qualquer), tinha vindo até ao Largo Dona Estefânea. Temendo levarmos uns “sopapos”, gritámos por protecção, mas o tal piquete nunca apareceu. E o Maltez também não.
Fecho aqui o parênteses.
Havia um certo problema com os delegados das candidaturas nas mesas de voto. Na CDE, como os seus apoiantes não estariam regularmente distribuídos, o que quer dizer que não haveria pessoal para tudo o que era necessário, recorreu-se a uma disposição legal. Pedindo e possuindo uma certidão de eleitor, podia-se votar em qualquer mesa e, de igual forma, exercer o papel de delegado. Em contrapartida, os portadores dessas certidões eram abatidos nas listas e só podiam votar, fiscalizar, etc. perante a sua apresentação. Acumulou-se um certo número dessas certidões e, depois, aconteceu que se perderam. Redução imprevista da mão de obra disponível.
Ficaram assim limitadas as possibilidades de arranjar os necessários delegados das listas da CDE. Em Arroios, quem organizou a angariação e a distribuição desses delegados foi o Manuel Falcato. Que já morreu. Naquelas circunstâncias, tivemos de contar com um velhote, lojista na zona, que ficava sozinho numa mesa. As mesas que seriam 13 ou 16 (não me lembro) estavam todas concentradas no ginásio do Liceu Camões. Ora, aquela situação do velhote sozinho (ainda por cima convencido por mim) preocupava-me. Como iria almoçar, como se iria aguentar, como estaria de saúde, etc.
Por isso, às tantas, pelo meio da manhã, fui votar e constitui-me, coisa possível, como cidadão fiscal –seria assim que se chamava ou de qualquer outra maneira– e lá fiquei junto daquele bom velhote na sua louvável atitude cívica. A ingenuidade do homem era tal que, às tantas, escreveu ao Caetano propondo qualquer coisa como um outro sistema fiscal. Enfim…
Até sossegar naquela mesa, andei dum lado para o outro, apreciando o que se ia passando. Os religiosos, os militares, os polícias, os velhos, a afluência, as aparências, etc. E também lá ia fazendo conversa e a distribuição de votos. Houve até um que se fez chegar a um elemento oficial duma das mesas que, indo votar CDE, tinha tido medo de entrar “ao trabalho” com esse boletim no bolso.
Uma vez na mesa de voto, fiz o trabalho normal. E ia contactando todos os delegados da CDE presentes. Os elementos oficiais da minha mesa eram uns pobres diabos que não davam sinais de grande instrução.
No fim, havia uns papeis complicados, com percentagens e contas e recontas. Cheio de prosápia disse-lhes. Deixem isso comigo que eu sou bom em contas. E engatei tudo, foi preciso corrigir por cima uma série de números. Felizmente que, com aquela amostra de competência, já não íamos a tempo de perder votos.
No fim, e pelo sim e pelo não, há que votar e há que reclamar, ditei para a acta um protesto qualquer de que não me lembro rigorosamente nada.
O dia acabou para mim de forma penosa. Não pelas percentagens. Os elementos da Junta, julgo que era essa entidade, tinham um jantarinho para nos oferecer. E quando eu me preparava para agradecer e negar, uma amiga minha, delegada, essa, aceitou de imediato. Lá tive de jantar na cantina do Liceu Camões, num agradável possível convívio com todos aqueles cavalheiros. Que até tinham ganho as eleições.
No dia seguinte e nos outros, andei furiosamente a discutir as formas de continuar com aquela oposição CDE.
Domingo, 25.Out.2009 at 11:10:53
Foi muito boa a vossa ideia de se auto-reverem nas eleições de 69, daí saindo uma certa diversidade de vivências que, naturalmente, não poderão dar uma visão exaustiva desse período, mas que o ilustram bem.
Interessante, para mim, é também o facto de ver nesse passado alguns pontos de contacto com alguns de vós. Por exemplo: a Helena Pato esteve na mesa da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais, freguesia onde eu então trabalhei com outros jovens em colaboração com companheiros mais velhos. Recordo-me que as primeiras reuniões se efectuaram no Bairro da Encarnação em casa do poeta Faure da Rosa, que revelou imensa coragem e desprendimento ao disponibilizar assim a sua residência. Depois, quando o número de pessoas aumentou, passàmos a reunir-nos num prédio dos Olivais Sul em casa duma companheira que também arriscou muito com essa disponibilidade.
Enfim, a generosidade e o empenho de que cada um então deu mostras (e que permitiram que os tempos da democracia se fossem rapidamente aproximando) são sinais exemplares que devem ser lembrados e servir de estímulo a todas as gerações para nunca baixarem os braços, por maiores que sejam as dificuldades, na luta pela liberdade, pela justiça social, pelos direitos humanos.
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 01:10:36
Jorge Conceição:
O escritor José Faure da Rosa era meu primo (casado com uma Pato) e a casa onde reuniam era o nº 34 da Alameda da Encarnação, quase ao lado da minha casa, em solteira. O Faure da Rosa foi um homem que desapareceu cedo, depois de uma vida nada fácil e de grande dignidade. Espantoso é que ainda hoje continuamos a fazer descobertas de factos – segredos guardados – relacionados com o regime de opressão em que se vivia: quer crer que, sendo uma família com quem nos dávamos diariamente, e sabendo eu que era um homem perseguido pelas suas ideias comunistas, nunca imaginei que tivesse algum dia havido reuniões lá em casa…?
Um abraço
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 01:10:59
Para o Jorge Fernandes
O José Manuel Carvalho foi meu colega no 3º ano do Gil Vicente. Tens razão.
Para o José Eduardo de Sousa
Esse preído pequeno, de dois andares, tem história, pois já nas eleiçoes do Delgado quando do célebre comício no Liceu Camões, houve troca de tiros, alguns disparados do telhado desse prédio. Só que, nesta caso, terão sido disparados por marinheiros à civil. Era o que na altura constava. Se é verdade não sei, mas que houve tiros, houve, pois eu estava lá. E houve até um certo pânico quando, às tantas, após um ruído cavo de fundo que se começara a ouvir, se verificou que provinha dos tanques de Cavalaria 7, sempre fiel ao regime, que subiam a Duque de Loulé. Enfim, memórias.
Terça-feira, 27.Out.2009 at 08:10:45
Eu puxava para o Arlindo Vicente, mas não tive qualquer actividades nessa ocasião. Nem sei bem se a sessão do Liceu Camões foi antes (como julgo) se depois do entendimento de Almada. Nesse dia, no entanto, sem ir aquela sessão, andei pelas proximidades do Camões, mais ou menos no quarteirão de tal prédio.
Naquela altura, não ouvi tiros, mas vi blindados na av. Duque de Loulé. Nem recordo um número que fosse um mais ou menos.
Claro que há uma grande diferença entre 1958 e 1969. As candidaturas às legislativas eram inofensivas, a candidatura do Delgado era perigosa. Pela natureza do homem, do movimento, etc. De resto, julgo ter lido que Delgado, logo a seguir às “eleições”, ou até antes, procedeu a uma série de contactos com militares com a intenção de dar um golpe de estado.
As coisas que correram naquela altura, e em relação à repressão exercida, foram uma avalanche. Entre elas a invasão do Monte Carlo pelos cavalos da Guarda, perseguindo quem aí se tinha abrigado. Essa tenho, para mim, como certa. Mas bem gostaria que quem estivesse em condições de testemunhar os incidentes daquela noite aparecesse a descrevê-los com alguma minúcia.
Obrigado por se ter lembrado da existência desse prédio e de ter acrescentado alguma coisa ao que eu tinha escrito.
Cordialmente
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 01:10:52
Caros Amigos,
Vou fazer link.
Mais uma vez, obrigado!
Abraço,
Ana Paula
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 01:10:58
Por este andar, vai sair desta Caixa de Coemntários uma pequena história da CDE de 69 ou, pelo menos, dos seus bastidores.
Curioso que, até agora, só apareçam pessoas de Lisboa.
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 04:10:08
Joana,
Eu tinha cinco anos na altura e não tenho memória dessas eleições. Perguntei a pessoas mais velhas o que fizeram nesse dia. Não se lembram de ter havido mesas de voto por cá e algumas nem sabiam que houve eleições em 1969.
(Gostei muito de ler os testemunhos aqui publicados)
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 11:10:43
Obrigada, Maria. Julgo que já soube de onde é (pelo seu blogue), mas não me recordo agora. É natural que haja muitos locais onde tudo isto passou despercebido – a censura era mesmo uma grande arma, mesmo que obrigatoriamente aligeirada durante a campanha eleitoral.
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 03:10:18
No dia das eleições de 69 (26 de Outubro) eu estive em mesas de distribuição de votos da CDE: algum tempo de manhã no Bairro da Encarnação, depois de votar e durante toda a tarde numa banca nos Olivais Sul. Aqui ocorreram vários episódios caricatos, alguns dos quais relatei num comentário ao “post” de Helena Pato de 5 de Junho passado intitulado «Um dia inesquecível». Porque que talvez venha a propósito, tomo a liberdade de o transcrever parcialmente:
(…) A primeira vez que participei activamente numas eleições, quer na sua preparação, quer durante o acto eleitoral em mesas de apoio aos eleitores (na altura a oposição não participava nas mesas de voto, tanto quanto me recordo, mas tinha mesas periféricas às assembleias de voto onde entregava boletins de voto a quem os solicitasse) foi em 1969. E ainda me recordo da alegria e da excitação que me enchiam e aos meus companheiros de então. E até da cumplicidade que existia entre os representantes das diversas candidaturas da oposição: a nossa, mais participada e mais dinâmica, a da CDE e as da CEUD e dos monárquicos. (Bem e até houve uma curiosidade: o posto de entrega de votos da “situação” era vizinho do nosso e apenas ocupado por uma pessoa, desconfio que “voluntário-à-força”; em determinado momento por necessidades pessoais fisiológicas esse nosso vizinho veio-me dizer que se tinha de ausentar por momentos e se eu não me importava de tomar também conta da banca dele; claro que lhe disse que não estava nada interessado em distribuir os seus boletins de voto; pediu-me então que, ao menos, fosse olhando para que ninguém lhos roubasse; depois, durante a sua ausência, veio ter comigo uma professora do secundário perguntando se os votos que eu tinha eram os “votos bons”; respondi-lhe que eram os óptimos; mas a resposta fê-la desconfiar e pediu-me expressamente os votos da lista da “situação”; disse-lhe que o responsável “tinha ido ali e já vinha” e que eu não mexeria nos seus boletins…). (…)
PS – Helena Pato, depois de me referir que o escritor Faure da Rosa era casado com uma sua prima com o mesmo apelido, veio-me à memória uma conversa que os dois tivemos sobre esse nome de família e associações políticas a ele ligado e o facto de eu lhe ter dito que tinha conhecido em Coimbra um Pato (o Rui Pato), sem no entanto termos chegado a ser amigos próximos. Tive grande estima pelo Faure da Rosa e fiquei sensibilizado por ele, homem já bastante maduro, dar atenção e amizade a jovens de vinte e tal anos, como nós éramos.
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 12:10:53
Obrigaram-me a fazer contas. Ora nasci em 1961, como muito bem consta do meu cartão de cidadão. Ora em Sessenta e nove, bem… basta fazer as contas. Vivia no El Dourado da Parede, ali na denominada linha de Cascais. Quando, em 72, cheguei pela peimeira vez a Coimbra, fui morar nos seus arredores, mais própriamente para S. Martinho dita do Bispo. Ali, nas ruas, em macadame, ainda passavam carros de bois a rolarem, lentamente, por elas, pessoas descalças e o tempo medido pelos sinos do campanário. Enfim aquilo a que se pode chamar um verdadeiro choque profiláctico esta passagem demasiado rápida do urbano para o rural coimbrão. Por isso o meu despertar para a realidade política apenas se deu no dia 26 de Abril para 27 de Abril quando, acompanhado pelo meu paí, fomos à estação Nova esperar os jornais que vinham de Lisboa. Ali entendi a macrocefalia do país, as imensas realidades sobrepostas que o coabitavam e coabitam. Pensando estar na terceira cidade do país, descobri que não. Isso era apenas o que vinha escrito nos livros de geografia da quarta-classe. Por isso em 69 era um puto-reguila- que fugia da escola para ir para a praia ou no Verão para Cascais onde podíamos ver aquilo a que o meu grupo chamava as “estrelas de cinema”: as míudas estrangeiras louras que povoavam a vila durante o Verão. Por isso em Sessenta e nove era uma nulidade política. Mas recordo-me que uma noite, à saída de Cascais, numa célebre noite desse ano, ali já perto do Hotel Estoril-Sol, o carro do meu pai e outros foram mandados parar e uns senhores fardados e com pistolas, após minuciosa revista de veículos e pessoas, nos mandavam seguir viagem. Acontecimento que, como não podia deixar de ser, me ficou na memória, embora só muitos anos depois tenha entendido melhor o incidente e os seus porquês.
Antes assim. Se tivesse tido a idade de muitos de vós, quase de certeza, que ou tinha ido parar a África, ou tinha sido preso. Sabendo o que sei de mim hoje,era quase de certeza.
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 02:10:34
Eu ainda nem dez anos tinha e de política sabia muito pouco, ou mesmo nada. Frequentava o 1ª ano do Ciclo Preparatório na Secção da Eugénio dos Santos, ali ao Pote d’Água (quem se lembra ainda destas designações?), não muito longe da Rotunda do Relógio.
Estudava muito, “para ser um Homem”, não tínhamos ainda televisão (víamos o “Zip Zip” em casa de vizinhos), ouvíamos o relato “da bola” na rádio, comprávamos o “Diário Popular” ao ardina e íamos à Missa ao Domingo, curiosamente na Igreja da Encarnação (pelo que vejo parece que, nessa altura, os Olivais eram já um dos Bairros mais vanguardistas de Lisboa, em termos políticos…).
Só muito mais tarde, já depois do 25 de Abril, os meus Pais me contariam finalmente tudo aquilo que já então sabiam, ou de que desconfiavam, mas que nesse dia 26 de Outubro ainda não se aventuravam a contar-me, para não pôr em perigo a minha existência, ou o meu futuro, sabendo que, naqueles tempos, quanto menos eu soubesse de política, tanto melhor para mim…
Para eles, Cidadãos modestos, cumpridores e trabalhadores (agente da P. S. P. e Costureira doméstica, sem grandes preocupações ou ambições, em termos materiais, e de índole respeitadora e conservadora), a política portuguesa nesses anos “resumia-se” à principal preocupação das suas vidas, para além da saúde: o terrível fantasma que era a Guerra do Ultramar, que pairava acima das suas vidas e que, dentro de escassos anos, lhes poderia “roubar” os seus dois Filhos (rapazes)!…
Assim, foi sobretudo esse pesadelo o motivo que depois os fez aderir, sem reservas, ao 25 de Abril!
Segunda-feira, 26.Out.2009 at 08:10:17
Era delegado a uma mesa de voto, onde no inicio me barraram a entrada. Só depois das urnas abrirem é que consegui entrar, e por lá ficar.
Dito isto, o que me traz a estes comentários é a evocação que o Jorge faz do Firmino. Grande companheiro de que há muito não me lembrava. Obrigado ao Jorge e à Joana Lopes por mo trazerem hoje de novo à memória. Um dos papéis destes Caminhos, não é?
Terça-feira, 27.Out.2009 at 01:10:40
Obrigado a todos pela partilha.
Na altura era um miudo de 7 anos e a maior preocupação eram os carrinhos da matchbox.
Já nas de 1973 que tinha uma tia (do PCP) candidata. Trabalhava na Oliva e foi imediatamente despedida.
A minha familia, na maioria contra a situação mas só dois do PC, preservou-me do reboliço mas na altura (em 73) lembro-me do zum zum e da tensão, que era inevitável pois o patricarca da familia, excelente pessoa, pai da tia e do tio do PCP era da União N. e presidente de Junta no Porto.
Terça-feira, 27.Out.2009 at 02:10:57
Já que estamos em maré recordações pessoais. Algumas adendas ao tema.
No intróito à entrevista interessantíssima do José Tengarrinha, que eu provavelmente li, mas de que já não me lembrava, é dito que a revista Seara Nova era então dirigida pelo Ulpiano Nascimento. Era e é, já com os seus noventa e muitos anos. É meu tio. Para a malta associativa do meu tempo da Faculdade de Ciências, eu era conhecido por Nascimento devido a ser seu sobrinho. Nessa altura havia um pequeno núcleo na Faculdade, onde pontificava o Carlos Plantier, que a Helena se deve recordar, que tinha ligações à Seara Nova onde o meu tio já colaborava. Penso que a evocação do seu nome é merecida.
Quanto ao Brissos, deve ser o velho amigo do tempo do Cine-Clube Universitário.
Na pequena recordação que elaborei para este site sobre as eleições de 69, senti que havia muita coisa fugidia que eu não conseguia precisar em que altura é que tinha acontecido. Sabia que tinha ido a uma sede da CDE para os lados da Penha de França, mas, só ao ler o Victor Dias, é que me recordei que era na Travessa do Calado e desse facto ter sucedido nas eleições de 69. Lembro-me de lá ter chegado um dia, ao fim da tarde, e ver entrar o Rogério Paulo a protestar, porque achava que tinham alugado uma sede no fim do mundo. Nessa altura Lisboa era um pouco mais pequena.
Lembro-me também do Joaquim Benite a virar-se para mim, quase sem me conhecer, e a dizer-me: “precisávamos de um jovem como tu para ser candidato a deputado”. Fiquei tão atrapalhado, que nem sei o que lhe respondi. Já se sabe que não fui candidato a nada.