A pedido da Direcção do movimento «Não apaguem a memória!», realizou-se ontem à noite em Peniche uma reunião de uma delegação da mesma com o presidente e o vice-presidente da respectiva Câmara.
Independentemente de eventuais posições que o NAM! venha a tomar sobre o assunto, e porque a polémica gerada em torno da projectada construção de uma pousada dentro da Fortaleza nasceu neste blogue, resumo o essencial do que se passou :
– A Câmara não tentará inviabilizar a construção da pousada, defendendo antes a «compatibilização» da sua existência com a de um núcleo museológico que contemple a preservação da memória.
– O único documento oficial que a Câmara tem em seu poder (para além de notícias publicadas em boletins municipais) é um «Protocolo de Acordo», datado de 12/7/2002. Não possui, por exemplo, qualquer cópia do contrato celebrado com o arquitecto Siza Vieira, não viu a maqueta, repetidamente referida, que o mesmo terá apresentado, nem sabe se a mesma abrange toda a Fortaleza ou apenas a pousada. No documento de 2002, do qual nos foi facultada cópia, está expressamente previsto um «Protocolo Adicional» para definição das áreas «necessárias e suficientes para instalação da pousada, de acordo com o estudo prévio a elaborar pelo projectista». Nesse mesmo Protocolo, seria/será também estabelecida a responsabilidade pela recuperação e utilização das restantes áreas. Este Protocolo Adicional nunca foi concretizado: não existe qualquer «estudo prévio» elaborado por quem quer que seja.
Assim sendo, e passo agora a falar em nome pessoal, saí com a convicção de que largos anos nos separam de qualquer concretização (com a consequente degradação progressiva das instalações) ou que, em alternativa, os valores mais altos dos interesses turísticos se sobreporão e imporão a outros – entre eles aos da própria Câmara – e que teremos, sim, uma pousada dentro da Fortaleza, com o risco de não serem sequer respeitados pressupostos mínimos. Por exemplo, ninguém pode garantir hoje que as antigas celas não serão chocantemente transformadas em confortáveis quartos.
Fomos contactados por vários órgãos de comunicação social, que estão hoje a transmitir, com maior ou menor desenvolvimento, o que aqui foi resumido.
Não sei se espero mas continuarei a defender, com a mesma convicção, que deveria ser encontrada uma solução SEM pousada e com aproveitamento de um espaço que é património de todos os portugueses para um conjunto de actividades mais compatíveis com a sua história e com a nossa memória.
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 10:10:26
Se o movimento cívico Não Apaguem a Memória” pediu uma reunião à Câmara e esta de imediato a realizou, de boa fé, como se compreende que antes da posição do movimento seja pública a posição de um dos seus membros? A Dr.ª Joana Lopes esteve na reunião como membro do movimento ou a título individual?
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 11:10:19
Dr. João Serra,
Tanto nós como o Presidente da Câmara já fizemos declarações a meios de comunicação social – as primeiras a uma rádio que nos esperava, dentro das instalações da Câmara, à porta da sala em que decorria a reunião. Mais do que um direito, era meu dever dar o mesmo tipo de informação no espaço deste blogue, do qual sou uma das principais responsáveis e onde a polémica nasceu. É um meio de comunicação como outro qualquer.
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 12:10:24
Penso que finalmente este importante assunto está a seguir os trâmites correctos.
Agora começa a perceber-se do que se está a falar e pode-se actuar de acordo com a situação real e não com base em erupções emocionais sem fundamentação.
Pela descrição parece ser uma daquelas situações, infelizmente tão comuns em Portugal, em que os assuntos se arrastam durante anos, imersos em indefinições, para depois emergirem subitamente quando menos se espera como factos consumados.
Agora penso que a NAM deveria criar os mecanismos de vigilância que impedissem que viessemos a ser surpreendidos, no futuro, com algum tipo de situação irreversível.
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 12:10:58
Tens razão, Fernando, há que criar mecanismos de vigilância, não só de movimentos como o NAM!, mas dos cidadãos em geral.
O que se passa é que a duração destes processos é tão grande, como sublinhas, que se sobrepõe à das próprias instituições: o NAM! tem três anos, este «projecto» (ou a ausência dele) é bem mais antigo e, para muitos de nós, surgiu agora «do nada».
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 12:10:11
Mais importante que saber se devia ter saído primeiro uma posição do NAM ou se a Joana – que teve o cuidado de separar o resumo da reunião da sua opinião pessoal – era livre de expressar a essa opinião é saber se se vai ainda a tempo de conseguir que a fortaleza seja transformada em algo mais próximo das razões de luta dos que em Peniche estiveram presos. Uma escola? uma biblioteca? um centro de documentação? um centro de conferências? ateliers para jovens artistas? uma casa de apoio a vítimas de violência? Por que doentia razão é que, para locais de repressão, se pensa prioritariamente em condomínios de luxo, hotéis de charme e pousadas?
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 01:10:26
um processo tipicamente português:
local e a Memória a preservar.
“cria-se” e “implementa-se” um espaço “museológico” que, entretanto, se descura e se abandona.
faltará dinheiro, toca de arranjar financiamento.
quais são as estratégias com promotores garantidos?
as ligadas à indústria da construção.
ah, mas um condomínio privado é chato, e se fosse uma pousada?
boa, boa, o turismo é o que está a dar…
olha, contrata-se um arquitecto mundialmente famoso, um quarto dos recalcitrantes calam-se logo e ainda podemos fazer uns anexos, aumentar a área de construção sem problemas com o Património.
bom, outro quarto de recalcitrantes calar-se-á se deixarmos uma lembrançazinha qualquer, se fizermos uns folhetos, uns postais, até uma publicaçãozinha. não podem dizer que procuramos o esquecimento…
e se falássemos com as autoridades locais?de que partido são?
comunidade local, vê lá o que dizes.
nah, o melhor, é não dizer nada a ninguém, qual envolvimento da comunidade local, qual carapuça!
e quando a outra metade de recalcitrantes começarem a dar conta do que se passa?
olha, chamamos-lhes ‘velhos do Restelo’, deixamos o processo arrastar-se, aquilo começa a cair, apela-se aos defensores do progresso local e nacional, divulga-se um número com os empregos a criar durante a obra e na futura exploração, arranja-se uma fatiazita de fundos comunitários, promovem-se uns eventos, umas festas com a Lux e a Caras…
olha, até se podia fazer uns seminários! bora lá convidar os recalcitrantes!
boa, com isso, mais um quarto ficará do lado desta ideia. e os outros?
talvez morram, entretanto. afinal, já se passou tanto tempo…
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 04:10:09
Suponho que deva haver espaços/monumentos em Peniche onde fazer belas e luxuosas pousadas. O Forte de Peniche, pela sua simbologia, deveria ser utilizado para finalidades outras,compatíveis com o respeito que nos exige o sofrimento de tantos que por lá passaram, uma vez que se reconhece que a dimensão do Forte não justificaria a sua utilização exclusiva para fins museológicos.
Mais uma vez sublinho a importância de que venha a ser aprovada uma legislação capaz de acautelar o uso de património público (e mesmo de património privado) onde se inscrevem as memórias, pelas quais tanto lutamos, para qualquer negócio. A sede da ex-PIDE, em Lisboa, é um exemplo.
Quarta-feira, 08.Out.2008 at 11:10:40
A opinião pública
não deve ser indiferente
Farei apontamento
no meu mar