Viriato da Cruz, ao centro, com Mário Pinto de Andrade e Lúcio Lara (Roma, 1959)
«As leis do condicionamento industrial e as pautas aduaneiras os industriais de Portugal, freando a actividade dos industriais de Angola. Existe um controlo absoluto em toda a industria e todo o comércio de Angola, visando, fundamentalmente, manter Angola em situação de perpétua dependência económica em relação a Portugal e as potências imperialistas.
O colonialismo inoculou, pois, em todo o organismo de Angola, o micróbio da ruína, do ódio, do atraso, da miséria, do obscurantismo, da reacção. O caminho em que nos vêm obrigando a seguir é, portanto, absolutamente contrário aos supremos interesses do povo angolano: aos da nossa sobrevivência, da nossa liberdade, do rápido e livre progresso económico, da nossa felicidade, de pão, terra, paz e cultura para todos.»
Assim analisava a situação angolana, em Dezembro de 1956, Viriato da Cruz, um dos fundadores do MPLA e seu primeiro secretário-geral. O nome do Movimento surge, aliás, no texto que citamos, em que escreve:
«Porém, o colonialismo português não cairá sem luta. Deste modo, só há um caminho para o povo angolano se libertar: o da luta revolucionária. Esta luta, no entanto, só alcançará a vitória através de uma frente única de todas as forças anti-imperialistas de Angola, sem ligar às cores políticas, à situação social dos indivíduos, às crenças religiosas e às tendências filosóficas dos indivíduos, através portanto do mais amplo MOVIMENTO POPULAR DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA.»
Esse verdadeiro «Manifesto» é um dos documentos incluídos no livro Viriato da Cruz, o homem e o mito, publicado pelas editoras Prefácio e Chá de Caxinde e recentemente apresentado em Lisboa.
Nascido em Kikuvo, Porto Amboim, em 25 de Março de 1928, Viriato da Cruz fez os estudos liceais em Luanda. Poeta, foi um principais mentores do Movimento dos Novos Intelectuais de Angola e da revista Mensagem. Saiu de Angola em 1957, passando brevemente por Lisboa e foi juntar-se em Paris a outro intelectual angolano, a quem o unia uma cumplicidade antiga: Mário Pinto de Andrade. Ali desenvolve intensa actividade cultural e política, participando, nomeadamente, no 2º Congresso de Escritores e Artistas Negros, onde apresenta o documento A responsabilidade do intelectual negro.
Fundador e primeiro secretário-geral do MPLA, vem a entrar em dissidência com o movimento, fixando-se posteriormente na China, onde morre a 13 de Julho 1973, em conflito com o regime chinês, que anteriormente admirara.
Coordenado por Edmundo Rocha, Francisco Soares e Moisés Fernandes, Viriato da Cruz, o homem e o mito, recorda a vida e a obra de um dos mais importantes nacionalistas angolanos, no seu duplo aspecto de poeta e político, lançando, nomeadamente, novas informações sobre a sua vida na China. Para que o nome de Viriato da Cruz não caia o esquecimento.
Sexta-feira, 27.Jun.2008 at 02:06:31
Muito bom o blogue. Continuem!
Domingo, 06.Jul.2008 at 10:07:51
Olá Diana
Excelente blogue. E excelente texto, como sempre. Falei uma vez, pelo telefone, com este magnífico Viriato da Cruz. Um privilégio.
Quero encontrar-te, falar contigo, corresponder-me, e, se possível, colaborar no blogue.
O Edmundo Pedro meteu-me nesta caminhada. É um tipo bué de fixe, como dizem os meus netos.
ferreihenrique@gmail.com
http://www.travessadoferreira.blogspot.com
Quinta-feira, 24.Jul.2008 at 10:07:39
é um testemunho muito importante para a verdade histórica .
Não é fácil realizar uma pesquisa desta envergadura.
Não podemos deixar de apontar um certo subjectivismo pró -VIRIATO da parte do DR Edmundo Rocha por ter sido seu admirador e seguidor real.
É um testemunho que terá cada vez mais valor pela pessoa do Viriato pela coragem do DR Edmundo Rocha em ter reconstituído parte da trajectória desta figura impar do nacionalismo Angolano.
A subjectividade por parte é redutora de certos realismos e declara ao longo desta exposição correntes ideológicas incompatíveis cujos contornos poderiam não ser reflexo de melhor visão estratégica para a o futuro do partido.
Ainda é muito cedo e a medida que os anos vão passando os fatalismos têm que ser bem ponderados.
Os subjectivismos aliados a jogos de poder condicionam muito as abordagens.
Os favoritismos políticos aliados a certas compensações de carácter literário muitas vezes denunciam jogos de contra poder que podem ser ajustados com o tempo.
O maior ou menor contributo histórico deve resultar de perspectivas honestas. Só
Com o tempo e a confrontação do percursos dinâmicos de cada interveniente deste patamar se poderá postular sobre grandes teses.
A desonestidade aliada a recursos alternativos de sucesso bibliográficos e alianças ,muitas vezes desvirtuam o verdadeiro carácter da honestidade histográfica.
O ideal não será ajudar ou travar o percurso histórico dos correligionários para projectar livremente certas obras,mas sim permitir uma maior confrontação para enrriquecer e fortalecer o projecto comum.