Albertina Lemos, uma das fundadoras do NAM!, morreu ontem (dia 26), no Porto, vítima de câncer. Há já alguns meses que sabíamos que o estado dela era grave, mas a força anímica que possuía levava-nos a acreditar, infantilmente, que ia resistir pelo menos até à Primavera e, depois, tudo seria possível.
Não foi, como humanamente sabemos.
A Albertina tornou-se uma personagem conhecida no NAM! porque era ela que fazia a ligação entre Lisboa e o núcleo do Porto. Sofria de poliomielite, que contraiu muito jovem, no Brasil, para onde emigraram os pais, mas a discrição e a tenacidade com que se apresentava depressa faziam esquecer essa «particularidade», como a designava a Maria Rodrigues, uma amiga de longa data.
A Albertina, na sua simplicidade, era um cérebro. Foi uma das alunas mais distintas do curso de Farmácia na Universidade do Porto. Pertenceu à pró-associação de estudantes e, recorda Luísa Oliveira, caloira da promoção de 1968/69, quando a Albertina chegava a finalista, ela fazia a «diferença» no ambiente «conservador e situacionista» da escola.
Foi para Paris como bolseira e aí vincou-se a sua adesão antifascista, militando nas organizações maoístas da esquerda radical. Depois da revolução de Abril foi activista da OCMLP – Organização Comunista Marxista-Leninista Portuguesa e participou no seu órgão de imprensa, O Grito do Povo!
Viveu as vicissitudes do processo revolucionário em curso e não soçobrou ao desânimo. Manteve-se atenta aos movimentos sociais e foi sem surpresa que os amigos a viram a intervir no Tolerância, na luta pela interrupção voluntária da gravidez, assim como no NAM! quando ele surgiu, no seguimento da manifestação que se realizou frente à antiga sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa, protestando contra o apagamento da memória na resistência à ditadura.
A Albertina Lemos já não está entre nós, mas permanece dentro da nossa fraterna amizade. Adeus companheira!
António Melo
Segunda-feira, 08.Mar.2010 at 10:03:13
Sinto muito o desaparecimento da Albertina.
Foi um dos pilares do movimento no Porto.
Honra à sua memória!
Quarta-feira, 17.Mar.2010 at 05:03:38
A 8 de Março, este texto do A.Melo é bem adequado à efeméride.
Sendo uma empenhada activista de movimentos vários, a Albertina foi uma grande mulher. Mesmo nas tarefas menores: distribir jornais, difundir convocatórias, transportar dirigentes no seu automóvel, guardar materiais de propaganda em casa, contactar novos aderentes, zelar pelos baldes de cola para pichagens…
Trabalho político sem estatuto? Não! Trabalho fundamental para a acção política. Mas frequentemente desenvolvido por quem fica na sombra. Eu sei que esta ocultação nao é inocente, embora possa até ser inconsciente.
É bem lenta a mudança de mentalidades! E bem pesado o legado da sociedade patriarcal.