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 Peter Marlow   

Reproduzo, de seguida, o meu testemunho, acerca do contexto em que a Nova Esquerda que eu conheci surgiu, e morreu, numa posta que escrevi, em Abril de 2004, sob o título «“Do MES à Nova Esquerda«. A ideia generosa da «Nova Esquerda« fracassou, nos difíceis anos 80 do século passado, como movimento autónomo porque, na verdade, a renovação da esquerda carece de muito mais do que de imaginação, boas ideias e boas vontades.  Ontem como hoje.    

Nas reuniões e discussões prévias ao I Congresso [do MES] lembro-me de ter, em diversos momentos, divagado a sós, angustiado pela percepção da «quadratura do círculo« que constituía, naquelas circunstâncias, conciliar a democracia representativa com a democracia directa, ou «poder popular».

Uma síntese impossível. Era necessário ganhar tempo, mas a gestão do tempo não era o nosso forte, nem o «espírito da época» favorecia as esperas sábias e pacientes.

As revoluções criam uma especial escala do tempo em que nos sentimos atraídos pela acção e a acção exige mais acção. A única saída possível para tornar o MES um Partido útil, na construção da democracia representativa e participativa, tinha-se esfumado com o desenlace daquele Congresso.

Os que romperam prepararam pacientemente a sua integração no PS. Os que ficaram, por convicção ideológica ou devoção a amizades autênticas, forjadas nas lutas do passado, foram absorvidos pela voragem dos acontecimentos e foram saindo, em levas sucessivas, até à extinção do movimento no célebre jantar do Mercado do Povo.

Após a extinção do MES alguns de nós dinamizaram, no início dos anos 80, a criação da «Nova Esquerda» em cuja declaração de princípios se preconizava o «desenvolvimento de um novo pensamento de esquerda que, assentando fundamentalmente na ideia do socialismo democrático, clarifique as suas fronteiras, encare os valores da liberdade individual, da solidariedade social e da iniciativa modernizadora (tanto ao nível económico como cultural), como elementos constitutivos essenciais».

Defendia-se, num notável documento de Julho de 1984, que mantém plena actualidade, entre outros objectivos, o debate «”aberto e inconformista que envolva todos os sectores interessados na modernização do país», o «reforço da democracia» e a «adesão à CEE».

Esse documento preparado para a criação de uma abortada «Cooperativa Nova Esquerda» foi assumido por Afonso de Barros, Agostinho Roseta, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça, Eurico de Figueiredo, Jofre Justino, José Leitão, Júlio Dias, Margarida Marques, Sara Amâncio, Tereza de Sousa e Vitor Wengorovius.

Em 21 de Abril de 1986 a Comissão Coordenadora da «Nova Esquerda», constituída por Afonso de Barros, Agostinho Roseta, Eduardo Ferro Rodrigues, Eduardo Graça e Vitor Wengorovius anuncia que, após seis anos, a «atitude de solidariedade crítica externa ao PS se esgotou e deve ser superada por uma intervenção política concreta que, para a maioria dos membros desta comissão, pode e deve ser realizada, desde já, dentro do PS».

Em consequência, no decurso do ano de 1986, todos os membros da Comissão da «Nova Esquerda», com excepção de Vitor Wengorovius, entre outros ex-activistas do MES, aderiram colectivamente ao PS.

 
Biografia de Eduardo Graça

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