Uma guerra faz-se com armas. Quando das guerras coloniais, Portugal usou de várias estratégias para contornar a proibição formal da NATO em utilizar-se material seu num teatro de guerra fora dos objectivos militares da Aliança e teve nessas artimanhas a arte suficiente para obter armamento fornecido por várias das potências militares ocidentais (EUA, Alemanha, Itália, França, Israel). Entretanto, as guerrilhas anticoloniais abasteceram-se na URSS e restantes países do Pacto de Varsóvia. Esta diferença de aprovisionamento (e treino militar), acompanhando a divisão da «guerra fria», foi uma das marcas mais expostas dos alinhamentos políticos e ideológicos dos dois campos em conflito. Por um lado, a ditadura portuguesa procurava integrar a defesa do seu império na disputa global entre o Ocidente e o Comunismo. As guerrilhas independentistas recorriam aos únicos que estavam disponíveis a alimentar belicamente os destacamentos africanos que lutavam contra o Colonialismo e o Imperialismo. Se no caso português o uso de material militar de países capitalistas constituía um reforço da estratégia integradora de defesa nacional, portanto um avivar de convergência em que o desconforto da natureza ditatorial e colonialista do regime era atenuado pelo empenho na luta contra o Comunismo, no caso da guerrilha africana tratou-se, mais que uma questão de proximidade política (que também existia), do resultado de uma fatalidade. Ilustrando este contexto, ficou famoso o encontro de Amílcar Cabral com congressistas norte-americanos, numa das suas visitas aos EUA, em que estes acusaram o PAIGC de ser um instrumento da URSS e usando como prova disso o facto de a origem de todo o armamento dos guerrilheiros ser de países comunistas. Cabral reagiu de imediato entregando aos congressistas uma lista do armamento que necessitava e apelando a uma satisfação da «encomenda» pelas fábricas de armas norte-americanas, acrescentando que, na luta, o PAIGC não olhava para o «made in». Claro que a reunião terminou ali e Cabral voou a seguir para Moscovo com a mesma lista a ser entregue a um adjunto de Brejnev, merecendo rápido despacho favorável. E obviamente não havia armas grátis.
Muito se tem discutido sobre a quantidade, a qualidade e a eficácia, na guerra colonial enquanto confronto de guerra de guerrilha versus guerra de contra-guerrilha, dos armamentos dos dois lados. Se parece indiscutível que o armamento dos guerrilheiros se adaptava melhor às condições dos combates que lhe eram próprios (anulação de percursos, emboscadas, flagelações de quartéis, fogo anti-aéreo), excelente e eficaz que muitas vezes excedia o nível de competência dos utilizadores, os militares portugueses nunca se puderam queixar de que fosse o défice no seu armamento (em quantidade e em qualidade) que desequilibrava os conflitos em seu desfavor. Para mais, os portugueses eram senhores exclusivos do domínio dos céus e dos cursos de água (aqui, com algumas importantes excepções na Guiné). Até à chegada à Guiné dos mísseis soviéticos terra-ar SAM-7 [conhecidos como Strela (стрела, flecha, em russo)].
Claro que se sem armas não há guerras, não são as armas que decidem as guerras. Se o PAIGC não tivesse previamente conquistado as posições que detinha no terreno em 1973, não eram os Strela que lhe iam dar a vitória pois nem sequer tinha condições para utilizar estes mísseis (nem sequer os soviéticos lhos forneciam antes de terem uma sólida posição no teatro de guerra e terem entrado na fase resolutiva do conflito). Sabe-se que era antiga a pressão de Cabral sobre os soviéticos para aceder aos Strela a fim de neutralizar a grande desvantagem do PAIGC relativamente ao exército colonial português sem que os soviéticos acedessem ao seu pedido (tratava-se de um fornecimento de armamento sofisticado que não deixaria de ter efeito no relacionamento entre a URSS e os EUA). E acaba por ser a morte (o assassinato) de Cabral no início de 1973, temendo pelos reflexos negativos deste facto no moral e na capacidade de combate do PAIGC, que leva os soviéticos a fornecer os Strela, desviando para o treino no seu manuseamento um grupo de guerrilheiros caboverdianos (comandados por Manuel dos Santos, Manecas) que estava na URSS para ser treinado para o início da guerrilha em Cabo Verde e que regressa às matas da Guiné preparados para a sua utilização com pleno efeito na fase final da guerra de libertação neste território.
O efeito dos disparos dos Strela foi de importância maior na fase final da guerra na Guiné, fragilizando o grande ponto de supremacia portuguesa que permanecia e permitia alimentar o impasse (o domínio dos céus). Para se ter uma ideia deste impacto, é de leitura oportuníssima este post que contem um texto do hoje Tenente-Coronel José Manuel Pinto Ferreira que viveu a batalha dos céus na Guiné e registou minuciosamente os encontros dos aviões portugueses com os Strela.
Imagens: Míssil Strela e restos de um avião de combate português (Fiat G-91) depois de abatido por um destes mísseis na Guiné e a serem inspeccionados por guerrilheiros do PAIGC. A terceira (da colecção da F. M. Soares) mostra o Comandante Manecas (nascido em 1942 em Cabo Verde, lendário operacional do PAIGC e ministro no governo da Guiné após a independência) no centro de uma confraternização entre militares portugueses e guerrilheiros do PAIGC, após o cessar-fogo conseguido a seguir ao 25 de Abril e que poucos dias antes se combatiam.
(Originalmente publicado no blogue Água Lisa.)
Biografia de João Tunes.
Sábado, 14.Fev.2009 at 11:02:22
Em 1971 os holandeses Bosgra e van Krimpen (este oficial da marinha na reserva9 publicaram um livrinho intitulado “Portugal e a Nato” em “que foi feito um pormenorizado resumo do equipamento usado pelas forças armadas portuguesas, incluindo marcas, números, datas de entrega e países de origem”.
No mesmo ano e a pedido do comité Angola em Amesterdão eu traduzi esse livrinho para português. Ainda tenho um exemplar.
Segunda-feira, 16.Fev.2009 at 11:02:13
E não se pode digitalizá-lo?
Seria uma pena que se perdesse para a História.
Segunda-feira, 16.Fev.2009 at 02:02:32
Caro João Tunes
Portugal é um país pequeno mas a distância entre os portugueses pareceu-me sempre imensa.Foi pois um prazer conhecê-lo através deste texto sobre a luta de libertação na Guiné-Bissau onde andei em missão de paz e conhecimento. Pode saber de mim através do http://www.triplov.com.Grata pelo seu texto
Joana Ruas
Segunda-feira, 16.Fev.2009 at 02:02:41
Cara Joana,
A blogosfera é isto mesmo: entre muito lixo, azedumes e cobardias, volta e meia encontramos quem interessa encontrar.
É um prazer passar a “conhecê-la”.
Segunda-feira, 23.Fev.2009 at 12:02:20
Cara Diana Andringa
Tenho muito gosto em lhe oferecer o meu exemplar do “Portugal e a Nato”. Reformei-me, estou a arrumar e a deitar fora tralha que não interessa aos meus filhos.
Diga-me como devo fazer.
PS- Acho que a conheci uma vez em Paris com a minha prima Carmo Vasconcelos (Rucha)
M. Helena
Quarta-feira, 25.Fev.2009 at 02:02:49
A propósito de strellas, guerras e ‘contributos’…
de perto a coisa é mais abaixo, diz-se e da guerra abem os que a fizeram; diz-se também.
A evocação, a não ser de natureza filosófica ou técnica, é agenciamento pro-político e, neste caso, pode ser aviltante ou perturbar a memória do evocado.
Aqui fica um texto adicional cujo autor desconheço
“A INTRODUÇÃO DO “STRELA” (*) NA GUINÉ
1. O primeiro míssil Strela foi mais “sentido” que visto quando uma parelha de Fiats G-91, pilotada pelos TCor Brito e Ten. Pessoa, executava uma missão junto à fronteira norte, em Campada – S.Domingos, no dia 20 de Março de 1973. O míssil passou entre os dois aviões sem atingir nenhum deles, mas tão próximo que o TCor. Brito sentiu o impacto da onda de choque do míssil.
Como era habitual sempre que um avião era alvejado, seguindo o rasto de fumo deixado os dois G-91 iniciaram um circuito de tiro batendo o local de onde tinha sido feito o disparo, utilizando o armamento de que dispunham (bombas, 2x200Kg e 4x50Kg cada avião), com os parâmetros de tiro habituais naquela época (3000 a 4000′ de altitude), o que poderia ter sido fatal para aqueles pilotos. No entanto não se verificou resposta por parte do IN.
A pedido do chefe da formação o segundo avião observou o exterior do outro, tentando detectar sinais de algum impacto, não tendo no entanto verificado qualquer anomalia. Os aviões regressaram à Base sem mais incidentes.
2. O segundo míssil, agora já detectado visualmente em 22 de Março de 1973, foi disparado contra um DO-27, pilotado pelo FUR Moreira, o qual se encontrava empenhado a fazer o “Sector de Bigene”. O piloto voava na área de Bigene e, pensando que se tratava de um disparo de RPG, como era habitual quando alguma aeronave era alvejada pediu ao Centro de Operações Aéreas na BA12 que enviasse para o local a parelha de Fiats de alerta.
A parelha de alerta, armada com foguetes e metralhadoras, descolou para Norte enquanto o DO-27 se mantinha na área. Os dois pilotos dos G-91 eram os Tens. António Matos e Lourenço Marques.
Quando chegaram ao local o Fur. Moreira indicou o local do disparo como sendo na margem de uma mata, que corria para norte. Indicou também o local onde o tiro tinha caído, que ainda fumegava e que distava do ponto de disparo cerca de 1,5Km. A distância pareceu logo demasiado grande para um tiro de RPG porque o alcance máximo era de 400 metros.
Os dois G-91 iniciaram um circuito de tiro batendo a orla da mata, de Sul para Norte. Neste circuito o nº1 saía para a esquerda e o nº2 para a direita.
Entretanto são verificados dois novos disparos, que não passam perto dos aviões, mas mais uma vez com um grande rasto de fumo e também com grande alcance. Mesmo assim, a surpresa continuou a funcionar, não tendo ocorrido a nenhum dos pilotos que se pudesse tratar de um míssil.
Perante esta reacção do inimigo e porque entretanto ambos os aviões tinham esgotado o armamento, o nº 1 decidiu pedir mais dois aviões, desta feita armados com bombas, 2x200Kg e 4x50Kg.
O nº1 desta parelha não chegou a descolar, pelo que só saiu o nº 2 que era o Comandante da Esquadra, Cap. Pinto Ferreira.
Chegado à zona recebe indicações da parelha anterior e inicia o bombardeamento.
À saída do 3º passe de bombas, e já quando passava pelos 5.000 pés, observou, vindo da sua direita, um longo rasto de um míssil em rápida aproximação ao seu avião.
Submetendo o avião aos “Gs” que a velocidade permitia, de imediato sentiu um forte impacto no avião, o que o levou a considerar ter sido atingido. No entanto, sem indicação na cabina de quaisquer danos, rumou em direcção à Base. Os outros dois aviões seguiram-no.
O Cap. Pinto Ferreira aterra o G-91 em Bissau, constatando-se então não ter sido atingido por qualquer estilhaço.
Mais uma vez, um míssil passou demasiado perto e o que o piloto sentiu foi a onda de choque.
3. O terceiro Strela atingiu o avião do Ten. Pessoa, em 25 de Março de 1973.
Sobrevoando o “corredor do Guilege” a 1.000′ (300 metros) de altitude para se furtar ao fogo das metralhadoras antiaéreas instaladas na Guiné-Conakry, numa missão de apoio ao quartel do Guilege, o avião do Ten. Pessoa é o primeiro a sofrer o impacto directo do míssil: “Fui atingido na parte traseira do avião, fiquei sem motor e depois sem comandos, e deu-me a sensação de que não teria sido uma bateria antiaérea. A minha preocupação, quando senti o impacto e a perda do motor, foi tentar pôr o motor a trabalhar normalmente, com a esperança de fazer uma ignição de emergência. Procurei o aquartelamento a que eu estava a fazer apoio de fogo, com vista à ejecção”.
O Ten. Pessoa acabou por perder o domínio do avião. Sem motor e sem comandos, sentindo o Fiat afundar-se rapidamente, decidiu ejectar-se. Como voava muito baixo, o pára-quedas não abriu completamente, mas a vegetação travou-lhe a queda, depositando-o no chão com uma perna partida. Assim que se restabeleceu do choque, começou a procurar um local donde pudesse disparar, relativamente abrigado das vistas do inimigo, a pistola de sinais que lhe permitiria ser localizado pelos aviões. Avaliando rapidamente as circunstâncias em que fora abatido, concluiu que devia estar próximo do aquartelamento de Guilege, e conseguiu determinar mesmo, e acertadamente, em que direcção ele se encontrava. Arrastou-se ainda, a muito custo, algumas centenas de metros, mas não conseguiu alcançá-lo, como era seu desejo.
Os guerrilheiros não se devem ter apercebido de que o piloto se tinha ejectado, pois a ejecção foi executada a muito baixa altitude. No decurso da noite, que passou dissimulado no meio da folhagem, Pessoa não detectou qualquer movimentação do inimigo nas cercanias. Apenas no dia seguinte, quando os helicópteros e os aviões começaram a voar na zona, é que eles poderão ter suspeitado da existência de pessoal militar no terreno. Mas quando tentaram localizar o piloto, já era tarde: pelas onze horas do dia 26 de Março de 1973, um grupo integrando elementos das Operações Especiais e de paraquedistas do BCP12, depois de o localizar, transportou-o para um helicóptero onde a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes lhe prestou os primeiros socorros e o assistiu na sua evacuação para o Hospital Militar de Bissau. A heli recuperação do Ten. Pessoa esteve longe de ser pacífica, tendo sido feitos disparos de mísseis contra os aviões de apoio à operação, nomeadamente a um T6 do Fur. Carvalho, mas não causando estragos.
4. Três dias mais tarde, a 28 de Março de 1973, o Comandante do Grupo, TCor. Brito não teve a mesma sorte da primeira vez em que fora alvejado, juntamente com o Ten. Pessoa, sendo atingido à vertical de Madina do Boé, por um míssil que provocou a explosão do seu avião.
Por volta das 12H00, o Centro de Operações informara que, segundo a DGS, estaria em curso uma reunião de altos quadros do PAIGC, em Madina do Boé, considerada a capital do território independente da região abandonada em 1968 pelas nossas Forças Terrestres (todo o sul do rio Corubal).
Embora se suspeitasse de uma armadilha, foi tomada a decisão de se fazer um reconhecimento visual da zona, a baixa altitude, pelo que foi accionada a parelha de alerta, constituída pelos TCor. Brito e Cap. Pinto Ferreira.
Chegados à área, a parelha comandada pelo TCor. Brito percorre para sul a estrada que vai até à base do PAIGC na Guiné Konacri, conhecida por Kamberra, a baixa altitude, o que permitiu observar um cenário de viaturas militares destruídas, desde a altura em que o Exército abandonou aquela região. Não se verificou qualquer reacção do inimigo, mesmo quando sobrevoam Kamberra .
Atingida a fronteira sul, os aviões rumam a norte em direcção a Madina do Boé.
À vertical daquela posição, o nº2 da formação, Cap. Pinto Ferreira, a voar a cerca de 500 pés sobre o terreno, é surpreendido pela explosão do avião do TCor. Brito – que voava um pouco mais alto á sua frente – atingido por um Strela.
O IN lança outro míssil para o nº 2, que graças a manobras evasivas (mais de 3 “G, s”) e à baixa altitude, não é atingido.
De regresso à Base e reunidos os mais altos responsáveis do Comando da Região Aérea e do Q.G., foi decidido não voltar àquele local para a recuperação do corpo do TCor. Almeida Brito, apesar de haver voluntários para a operação.
Naturalmente que, a perda do Leader do Grupo Operacional da Guiné, causou grande perturbação nos pilotos, na sua maioria jovens pilotos.
5. Em 6 de Abril de 1973, agora no Norte do território da Guiné, a fortuna foi ainda mais madrasta para o Grupo Operacional 1201 da Guiné. Nesse dia, muito cedo, um DO-27 pilotado pelo Furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de Batalhão a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino.
Tendo-se perdido o contacto com aquele avião, de Bissalanca descolaram meios aéreos para tentar localizá-lo e, quase em simultâneo, descolou outro DO-27 incumbido de proceder a uma evacuação sanitária pedida pelo aquartelamento do Guidaje. O avião era pilotado pelo Fur. Carvalho e levava a bordo a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes. Também este avião não chegaria ao seu destino: alvejado por um míssil Strela, que o não alcançou por muito pouco, os comandos do DO-27 ficaram tão danificados pela acção da onda de choque, que teve de regressar à base de origem. [Giselda Antunes e Miguel Pessoa vieram a casar mais tarde, tornando-se, com toda a probabilidade, num casal único em todo o mundo: ambos foram alvejados por mísseis terra-ar Strela, e escaparam os dois à morte.]
Entretanto, para substituir o avião danificado partiu de Bissalanca outro DO-27, pilotado pelo Fur. António Carvalho Ferreira.
Tendo embarcado em Bigene o Major Mariz, comandante do Batalhão ali estacionado, este avião aterrou por fim em Guidaje, donde descolou mais tarde com quatro pessoas a bordo: o piloto, o major, um militar ferido e um enfermeiro para o assistir durante a viagem para Bissau. Apenas se sabe que, dadas as características da pista, descolou para norte, entrando por território do Senegal. Nunca mais foi visto!
O primeiro DO-27 desaparecido acabou por ser localizado algures no mato, entre Bigene e Guidaje. Transportado de imediato para o local em helicópteros, um pelotão de pára-quedistas limitou-se a constatar a morte dos quatro ocupantes. Nessa altura, voando na área em protecção da acção terrestre, o T-6 do major Mantovani foi abatido por outro míssil Strela, tendo o piloto morrido na queda do aparelho.
Manuel dos Santos, o homem que chefiara o grupo do PAIGC enviado à União Soviética para aprender a operar os mísseis, e que então acumulava as funções de comissário político da Frente Norte com as de comandante dos mísseis em todo o território, podia dar-se por satisfeito: naquelas poucas semanas do primeiro semestre de 1973, os seus homens desferiram um duro golpe na capacidade operacional do inimigo.
6. O último avião a ser abatido por um Strela, antes da independência, teve lugar 9 meses depois, em 31 de Janeiro de 1974, numa missão de apoio próximo ao quartel de Copá, no leste da Guiné; a parelha de Fiats era constituída pelos TCor. Vasquez e Ten. Gil.
O avião do Ten. Gil foi atingido ao fim do dia, durante a recuperação de um passe de bombas (a cerca de 7.000’), eventualmente feito sem a necessária aceleração, entrando assim no envelope do míssil.
O piloto ejectou-se, conseguido fugir para Norte, passando a noite para lá da fronteira com o Senegal. Ao amanhecer, iniciou uma caminhada para sul, a fim de tentar encontrar a estrada Nova Lamego – Buruntuma.
Entretanto, estavam já na zona os meios de busca e salvamento, constituídos por um DO-27 e Parequedistas transportados em ALIII, bem como uma parelha de Fiats em alerta, estacionada em Nova Lamego, com o Cap. Pinto Ferreira e o Ten. Matos.
O Ten. Gil avistou os aviões que o procuravam, só que, quando tal aconteceu, já se encontrava demasiado a Sul (que jeito teria feito um rádio… – só apareceram uns meses depois) ; continuou a andar e, cansado e cheio de sede, resolveu entrar numa tabanca onde pediu água;
Foi recebido de um modo amistoso, deram-lhe água e laranjas, o que o levou a oferecer 1000 Pesos, a quem o levasse a um quartel da tropa. À vista de tal quantia, foi o próprio “homem grande” da tabanca que, pegando na sua bicicleta, o levou ao posto da tropa mais próximo – Dunane, situado na estrada Piche-Canquelifá.
Aí chegados e como os militares eram todos africanos, o piloto pediu que o levassem até um quartel com militares brancos, o que fez o “homem grande” pedalar rijo até Piche.
Foi desse posto avançado FT que, cerca das 17:00 e via rádio, informaram os Fiats que o “Papá Índia Lima Oscar Tango Oscar ia para (as duas letras do indicativo de Piche) de Bravo Índia Charlie Índia Charlie Lima Echo Tango Alfa”.
Chegado a Piche, o Ten. Gil pagou a dívida ao “homem grande” e foi transportado no Dakota para Bissau, onde chegou cerca das 23H00.
Devido aos excessos da comemoração acabou a noite no Hospital de Bissau; aí chegado, e como não houvesse camas disponíveis, foi obrigado a dormir na área da Psiquiatria; o enfermeiro, que entretanto entrara de serviço, como o viu demasiado agitado (era do “chagrin” …) e estando na área dos PSICOS, resolveu amarrá-lo à cama, donde só muito mais tarde se conseguiu libertar.
Regressou à Base na manhã de 2 Fevereiro, sem mais poroblemas.
7. Em síntese, o sucesso inicial do PAIGC, teve como principal origem a falta de informações sobre o sistema do míssil, seu envelope e capacidades, que deveriam ter sido antecipadas aos operadores daquele teatro de operações. Recorde-se que, o “Strela” ou SAM 7, era já bem conhecido da guerra do Vietname.
Foi preciso perderem-se 6 aviões e 4 pilotos, para se passar a operar com contra-medidas adequadas, o que permitiu não ter mais perdas durante cerca de 9 meses.
Refira-se que o PAIGC continuou a utilizar o Strela na Guiné, evoluindo para mísseis mais sofisticados, em que desapareceu o rasto de fumo que, no início permitia o avião aperceber-se da sua aproximação supersónica, passando mais tarde a ser possível vislumbrar apenas um foco de luz, proveniente da cabeça do míssil.
Assim, a partir de Abril de 1973, na zona do objectivo o Fiat G-91 passou a manobrar por forma a manter um mínimo de 3 a 4 G,s e a retaliar de forma intensiva , com bombas de 750 libras, sempre que era lançado um míssil.
Este tipo de armamento, chegou a ser utilizado no apoio próximo a aquartelamentos na fronteira, caso do Guidaje onde foram largadas bombas de 750 libras no arame farpado!
Aliás este aquartelamento deixou de ser abastecido por terra, uma vez que as colunas militares não conseguiam passar. Ao ponto de uma coluna de veículos militares, carregados de armamento e explosivos, ter sido emboscada e abandonada pelo nossas FT, e ter sido dada a ordem ao Cap. Pinto Ferreira, para bombardear e destruir a referida coluna, o que foi feito.
Diga-se, em abono da verdade, que o apoio próximo habitual às tropas no terreno, com o DO-27 a fazer PCV com foguetes e o T-6 no acompanhamento das colunas no seu trajecto, deixou ser exequível. O DO-27 ficou limitado às evacuações e o T-6 foi abolido. Os Fiats e os Helicópteros, com contra-medidas adequadas, continuaram a cumprir as suas missões. “
Quarta-feira, 25.Fev.2009 at 03:02:19
Excelente o texto veiculado pelo “Pirata Vermelho”. O autor será desconhecido, mas o estilo era o corrente nos PERINTREP, que alguns de nós guardaram em desobediência (e ainda bem). Tomo a liberdade de sugerir que se alguém tiver alguns exemplares, quer da Guiné, quer de Angola, quer de Moçambique, os deveria deivulgar (talvez através dos «Caminhos da Memória»), solicitando, se for o caso, o anonimato para evitar (já imprevisíveis) represálias.
Quarta-feira, 25.Fev.2009 at 03:02:44
Correcção ao final do meu comentário: “improváveis”, em vez de “imprevisíveis”.
Quarta-feira, 25.Fev.2009 at 06:02:28
Ó caro pirata-vermelho, a questão tb é a do uso das tecnologias. Vc estendeu o lençol de um texto para o qual fiz link no final do meu post. Bastava um clique para ir lá ter, sem necessidade de longa transcrição, pois foi exactamente baseado nele que escrevi este post. Mas como conseguiu impressionar pelo menos um outro leitor deste blogue, diga-se que valeu a pena.
Quanto à autoria, que diz desconhecer, pois ela é do Tenente-Coronel José Manuel Pinto Ferreira como tb assinalo no meu post. E “debaixo” do clique que não clicou está o site onde o texto está publicado (diferença: eu revelo a fonte que utilizei, vc não). É um site de antigos combatentes na guerra da Guiné e onde se podem encontrar relatos, relatórios, sintreps e perintreps de todos os gostos e feitios.
Sexta-feira, 05.Jun.2009 at 12:06:50
É BOM MANTER VIVA AS MEMÓRIAS QUER NA GUINÉ, EM ANGOLA OU EM MOÇAMBIQUE. FUI ESPECIALISTA DE COMUNICAÇÕES EM MARRUPA – NOVAFREIXO – VILACABRAL, ONDE VIM A ENCONTRAR O CAP. MANTOVANI ENTRE 68 A 70.
LEMBRO-ME DO SEU “INDICATIVO” QUANDO REPORTAVA CONNOSCO.
ERA O “LOBO”.
QUANDO ACABOU A SUA MISSÃO EM MOÇAMBIQUE, RECORDO-ME DA DESPEDIDA. “MISSÃO CUMPRIDA”.
MAL CHEGOU A MAPUTO, NA COMPANHIA DA ESPOSA, O SEU DESTINO FICOU TRAÇADO.
MOBILIZADO PARA A GUINÉ. AO TER CONHECIMENTO DA NOTÍCIA, FICOU “REVOLTADO”, E TEVE ESTA EXPRESSÃO: “AO ESTADO A QUE ISTO CHEGOU, QUE NEM PILOTOS JÁ HÁ”…
ISTO FOI HÁ MUITOS E MUITOS ANOS…MUITAS VIDAS PODERIAM TEREM SIDO POUPADAS…
COM AMIZADE PARA TODOS OS EX-COMBATENTES, FICA REGISTADA ESTA PEQUENA HOMENAGEM….RUI FERREIRA