Segundo noticiou o jornal Público, de 25 de Setembro de 2008, a Fortaleza de Peniche vai ser transformada em Pousada de Portugal, devendo abrir portas até 2013. «Com um investimento previsto de dez a 15 milhões de euros, a nova unidade deve compatibilizar a função hoteleira com a “preservação da memória da prisão política”» – disse António Correia, presidente da Câmara de Peniche. O autarca acrescentou que essa «pousada será diferente», pois «será construída num local que é visitado por milhares de pessoas à procura da memória do que ali se passou» (*).
Esta declaração parece uma anedota (de mau gosto).
Será que o Sr. Presidente da Câmara está à espera de «clientes» bebam um copo, num hipotético bar, erguido junto ao «parlatório», onde os familiares visitavam os presos políticos com uma placa de vidro encimado por uma rede de permeio e os guardas a vigiarem? Ou que dêem um mergulho na piscina, junto à «furna» isolada em cimento, que servia de «segredo», para punir os presos políticos? Ou ainda que façam parapente para o mar, ou escalada dos muros, para reviver as fugas audaciosas dos presos políticos?
As declarações do autarca de Peniche revelam também que a questão da preservação da memória está a «passar» em Portugal e até a tornar-se numa moda. Não se trata porém de criar espaços museológicos, necessários a um trabalho de memória, que não só a possa preservar, pacificá-la nos que sofreram a repressão da ditadura de Salazar e Caetano, como servir de ponte actuante entre o passado, o presente e o futuro, bem como de solidariedade entre as gerações. Não. O que se pretende é utilizar a mesma memória para efeitos comerciais, até com algo de macabro. Pelos vistos, o exemplo da sede da PIDE/DGS, na Rua António Maria Cardoso em Lisboa, transformada em condomínio de Luxo, «pegou». Só que desta vez, até uma propriedade pública que serviu de centro de detenção política para os opositores a Salazar e Caetano cumprirem as penas a que eram condenados pelos Tribunais Plenários do Estado Novo parece poder vir a ser transformada numa Pousada de Portugal privada.
(*) A notícia também refere que do grupo Pestana-Pousadas de Portugal fará essa transformação, ao abrigo de um contrato que já terá já sido assinado, no passado dia 25, entre ele e os organismos estatais Turismo de Portugal, Enatur (Empresa Nacional do Turismo) e Direcção-Geral do Tesouro e Finanças.
Texto integral da notícia.
Domingo, 28.Set.2008 at 04:09:42
Mais uma notícia do nosso estranho Portugal. Por mim, penso que seria interessante criar um movimento na net contra tal “pousada”. O que pensam?
Domingo, 28.Set.2008 at 05:09:30
Várias acções se seguirão mas, para já, divulgar a notícia na blogosfera ajuda certamente.
Domingo, 28.Set.2008 at 06:09:09
Antes que se crie um novo caso Maria Keil talvez fosse bom perceber qual é o conteúdo da proposta que, em abstracto, é realmente chocante.
Eu não conheço o edifício mas admito a hipótese de haver partes dele que não tenham que integrar um projecto museológico.
Até admito que a existência de uma pousada adjacente, desde que bem pensada, tivesse efeitos positivos sobre esse espaço museológico.
Ninguém melhor do que a “Não Apaguem a Memória” para seguir o assunto e, de forma documentada, se for caso disso lançar uma campanha de protesto.
Domingo, 28.Set.2008 at 06:09:28
Fernando,
O NAM está a fazer exactamente o que sugeres: estudar o assunto para determinar as acções adequadas. Há no NAM umas tantas pessoas que conhecem muito bem o edifício porque até por lá viveram uns anos e outras que estudaram sufientemente a sua história – como é o caso da Irene Pimentel – para se indignarem e o exprimirem como ela o faz neste texto.
Domingo, 28.Set.2008 at 09:09:09
Como tão bem diz Irene Pimentel: beber um copo no local onde tantos foram torturados, fazer turismo em cima de tanto sofrimento …é inconcebível seja qual for o(s) estudo(s) que venha(m )a surgir! Museu, repositório vivo do que foi a prisão política em Portugal…porque a memória de tant@s não pode ser assim apagada, e em última instância é um insulto aos que sofreram em nome da liberdade que muitos não valorizam.
Eu passei a mensagem e certamente outr@s o farão. Não acredito é que seja suficiente face ao “vil metal”…infelizmente!
Domingo, 28.Set.2008 at 09:09:40
Acho que o assunto é demasiado sério para se lançar na praça pública numa base puramente emocional.
O que eu pretendo é que seja explicado o que é que o projecto pretende fazer exactamente (dimensão, arquitectura, etc), que partes do edifício seriam usadas para “pousada” e qual a sua relevância quantitativa e histórica, que contrapartidas seriam dadas, etc, etc.
Depois de saber isso posso liminarmente recusar tal projecto. Antes de saber isso não posso dar um cheque em branco a ninguém.
Se o objectivo é apenas fazer barulho então façam como entenderem.
Domingo, 28.Set.2008 at 10:09:20
Está na altura de avivar a memória
Um Povo Não Esqueçe
João
Domingo, 28.Set.2008 at 11:09:10
É necessário saber exactamente do que se trata e sem mais informação custa-me a crer que não tenha sido salvaguardado de forma adequada o museu do forte de Peniche. De contrário seria um escândalo. Mas dos grandes vindo de quem vem.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 12:09:20
A ser verdade tratar-se-ia de uma acção de um mau gosto arrepiante. De tal maneira absurdo, que não acredito que órgãos camarários responsáveis possam pensar em tal solução.
O que o NAM poderia fazer era interpelar esses órgãos – já deliberaram ? e o quê ? Poder-se-ia pedir às pessoas que se interrogam sobre o que se passa nesta matéria que escrevam cartas – um pouco à maneira do que pratica a Amnistia Internacional, e com o que, muitas vezes, se obtêm resultados.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 12:09:10
Se a arrogância camaleónica de certos senhores fosse objecto de tributação fiscal, a nossa saúde mental ficaria, seguramente, melhor preservada.
Subscrevo Maria Manuela Cruzeiro quando escreve: “o combate pela memória exige doses suplementares de lucidez e coragem, não só para derrubar muros de ignorância, mediocridade e indigência mental, mas também para resgatar a densidade humana e ética de quantos no passado, mais distante ou mais próximo, fizeram das suas vidas lições de resistência e dignidade”
Faço o mesmo em relação a Joana Lopes quando responde a um tal Fernando
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 12:09:59
É verdade o povo não esquece, ou se esquece alguém deve avivar-lhe a memória pois muitos ali sofreram pela liberdade.
Elisabete
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 10:09:21
Infelizmente sou obrigado a acreditar que tudo isto faz parte de um plano contra a emória histórica e cívica de um povo que permitiu, com o seu «voto útil» o arrivismo de uma camarilha de mutantes políticos. Este projecto para a fortaleza-prisão fascista de Peniche é, naturalmente, olhada com emoção e com as razões de quem ali sofreu ou de quem se solidarizou com os que ali sofreram e lutaram pela Liberdade. Irene Pimentel é merecedora das minhas hmenagens pela denúncia que fez e pela obra realizada.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 12:09:19
Cada vez mais me interrogo onde estará a “diferença”? Porque votei “nesta” administração?
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 01:09:04
É de pasmar, quer a ideia da pousada, quer as declarações do autarca. Como é possível só se saber agora?
Era preciso ir ver o projecto que se preparam para licenciar e em caso de ser o que parece – ir ocupar com uma função banal de comércio lugares da nossa História que deviam erguer-se e preservar-se como testemunho vivo, lugar de romagem e aprendizagem – então, deveria lançar-se um movimento.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 01:09:20
A memória nunca será uma moda, senão quem estuda história corria o risco de ficar sem emprego.
Quanto à comparação tb essa é de mau gosto, a António Maria Cardoso, converteu-se completamente num empreendimento de luxo, a Pousada nunca será no Forte inteiro.
Quanto ao projecto, para os mais distraídos já tem cerca de 20 anos e só agora gritam aqui D’el-Rei.
Recomendo antes de agir emocionalmente que procure mais informações acerca da futura pousada, em vez de escrever logo com base num artigo de jornal.
Quanto a beber copos no Parlatório, tenho a ideia que foi um bocadinho longe de mais.
Acho que o Sr. Fernando Penin Redondo tem a melhor reflexão sobre a matéria.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 01:09:09
eu diria que não há plano nenhum. há, apenas, uma enorme ganância e um sentido de oportunidade de negócio apurado, assentes sobre um generalizado desprezo pela História…
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 02:09:35
Impressiona-me a óptica puramente mercantil da Câmara ao aceitar uma proposta destas. O que ainda mais me choca é que o senhor autarca de Peniche, António José Correia, foi eleito pelo PCP – que tem no forte de Peniche um bastião «sagrado» da luta sangrenta contra o regime do Estado Novo. Não tenho memória de uma ideia tão confrangedora e boçal como esta e lamento a crónica falta de memória de que padece este país…
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 03:09:04
Sinceramente choca-me mais ver a fortaleza num perfeito abandono como tem estado nos últimos anos. Gosto muito de Peniche e acho que as pesoas que lá vivem não lhe dão o devido valor. Se para ver a fortaleza ganhar outra vida além da fama de prisão e de más memórias que sempre teve, pois seja! É hora de deixar para trás as más memórias e não deixar cair por terra estes edifícios que tanto têm para dar.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 03:09:54
Sobre o projecto só sei o que veio publicado no Público e no Jornal de Notícias. Não tendo tido conhecimento de nenhum desmentido por parte do Sr. Presidente da Câmara de Peniche, parto do princípio que não renega as declarações que lhe são atribuídas, em que admite a possibilidade de “uma compatibilização entre as funções da pousada e a preservação da memória da prisão política e do museu da resistência”.
Opinião que, a crer no JN, é partilhada por outros responsáveis locais. (O JN cita “o dirigente comunista de Peniche, Jorge Amador”, como tendo dito: “Entendemos que é possível compatibilizar o actual museu municipal de Peniche e a sua componente ligada à resistência com a nova estrutura”. Sem prejuízo da necessidade de um maior conhecimento do projecto (até pelo seu autor) a verdade é que, sabendo o que representou aquele Forte na vida de tantos resistentes portugueses, me choca vê-lo utilizado como local de lazer. O Senhor André Amador considera que a Irene Pimentel foi longe de mais ao referir a hipótese de beber um copo no Parlatório, eu entendo que o que é ir longe de mais é transformar lugares de sofrimento em lugares de ócio. Fazê-lo é, de algum modo,insultuoso para a memória dos que ali sofreram. É isto tão difícil de entender?
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 05:09:31
O secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, considerou que “o país está parado”, após verificar que os projectos da pousada na Fortaleza de Peniche e das novas instalações da Escola Superior do Mar não estão assegurados pelo Governo. “Nesta zona, o turismo e o ensino de alta qualidade são alternativas fundamentais e, infelizmente, o que se verifica é que Peniche e o país estão parados. O que o PS está a fazer é a chamar a atenção do país para a gravidade do que se está a passar”, afirmou Ferro Rodrigues, após uma visita à Fortaleza e à escola do Mar, realizada no passado dia 13.
Relativamente à construção de uma Pousada de Portugal na Fortaleza de Peniche – cujo projecto está a cargo do arquitecto Siza Vieira, mas que ainda não teve início, o líder socialista disse que “havia um compromisso, um projecto em desenvolvimento que foi abruptamente travado sem a expectativa de que haja uma orientação”.
Frente Oeste, 19 de Fevereiro 2004
http://www.frenteoeste.com/modules.php?name=News&file=article&sid=438
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 05:09:23
A autarquia quer valorizar a terra, haverão forças vivas de Peniche que apoiarão a ideia. É o mercado a funcionar, aqui na vertente político-cultural. Nada de substancialmente diferente vislumbro entre a visão mercantil-desenvolvimentista entre o autarca de Peniche e o de Santa Comba Dão com o projecto da Casa-Museu de Salazar. O filão é o mesmo, com complementaridade e sem colisão de clientela-alvo: Santa Comba tenta captar saudosistas dos tempos de Salazar, em Peniche quer-se ganhar e dar a ganhar uns cobres com a captação de antifascistas e curiosos que, entre um spa e uma sesta, sigam o percurso da fuga de Peniche e se debrucem no local onde Dias Lourenço fugiu num Inverno, saltando para o mar. Provavelmente, só antigos pides ainda vivos gostarão de ir a Santa Comba e dormir em Peniche (numa óptica de revivalismo carcereiro).
O que me preocupa, isso sim, e disso dei conta no meu “sítio”, é não saber se o Grupo Pestana contempla, neste projecto, a instalação de um centro de rastreio e tratamento de doenças mentais atendendo à componente sado-masoquista que pode levar indivíduos ao impulso, pagando por ele, de dormirem descansados e ragalados num local que foi presídio político e em que muitos combatentes contra o fascismo tanto penaram.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 05:09:30
O que acham que sentiria se passasse alguma noite nessa Pousada?
Eu que tive o meu pai lá preso (e a minha mãe em Caxias).
E outros, e seus familiares, que lá estiveram longos anos privados da liberdade?
Digam-me e aos outros, aqueles que estão a favor da construção da Pousada.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 08:09:28
Os verdadeiros progressistas são os que partem de um profundo respeito ao passado .
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 08:09:22
Caro André Amador: não sabia que o projecto já tinha 20 anos, mas apercebo-me através de uma busca googliana que pelo menos desde 2002 que o governo, a Enatur e a Câmara Municipal de Peniche anunciam a criação da pousada. Mas o facto é que o actual executivo penichense não só não se lhe opôs como parece apostado em torná-lo realidade. Sabemos que a pressão dos grupos económicos é terrível, que provavelmente estão em causa compromissos anteriormente assumidos, etc., mas… a política também é feita destas opções difíceis.
Concordo que não se deva agir emocionalmente antes de ver o projecto, mas conhecendo o espaço, não vejo como se possa compatibilizar ali turismo de luxo com a memória da repressão. Ocorrem-me imagens como aquelas que a Irene Pimentel descreveu no texto e outras, talvez até mais sombrias.
Isto leva-nos ao ponto levantado pela Sandra Marques: na verdade, o Museu Municipal é miserável. Quando lá fui, lembro-me de ver uns bonecos já caídos no parlatório, do abandono de algumas zonas, da escassa informação e do nulo acompanhamento.
Mas eu concluo num sentido diferente: ao contrário da Sandra Marques, parece-me que este era um bom ponto de partida para se pensar numa reestruturação do lugar que o transformasse num digno espaço museológico.
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 09:09:43
Em tempo recente foi proposto à assembleia municipal de Peniche, um “simples” memorial, onde ficaria inscrito o nome de todos aqueles que passaram por aquela prisão política. Não houve resposta, para esta ideia que certamente dignificaria a memória da resistência, o espaço da actual fortaleza e que até nem seria cara!
Como há autarcas e autarcas, a ir e voltar, esperemos por outras marés.
Fernando Lino
Segunda-feira, 29.Set.2008 at 11:09:17
Lentamente vamos perdendo memórias e isto como acontece na pessoa humana traz sequelas que ficam no psique social de um povo. Lidaram mal os alemães com as suas feridas do nazismo. E nós continuamente querendo afastar os fantasmas para baixo da mesa. Ou será antes que não surgiu da parte da sociedade civil interesse e capacidade organizativa para pôr de pé o que a sociedade capitalista e seus lobbies tentam fazer: lembrar à sua maneira como é fácil um povo ir branqueando o seu passado.
Terça-feira, 30.Set.2008 at 12:09:57
lentamente os burocratas vão tentando limar as memórias colectivas.
lentamente a globalização vai limpar o passado muito recente de alguns “velhotes teimosos”.
lentamente vão embelezando a “história” da luta contra o fascismo.
Terça-feira, 30.Set.2008 at 09:09:34
Ainda, e à guisa de conclusão da minha “tese”: Com o devido respeito pelos que sofreram em Peniche – não há maior prisão que a do passado. Felizmente não falo com conhecimento de causa, porque nunca tive ninguém preso em Peniche. Sou filha de emigrantes e tudo o que isso acarreta. Normalmente somos estrangeiros aqui e onde nascemos, lá fora. Portanto sinto-me com legitimidade para me sentir “em casa” onde me sinto bem. E sinto-me bem em Peniche. Mas não gosto de ver a fortaleza no estado miserável em que está. Quanto ao museu, já lá tem um. Bom ou mau, poucos são os que o visitam. Eu sei, porque já lá estive várias vezes. Parece-me que fazer um museu e mostrar documentalmente todas as atrocidades cometidas – e estamos a falar só das do antigo regime, faltariam todas as outras anteriores – é perpetuar um estado de depressão como se a repressão fosse a justificação, em vez de fazer algo que demonstre que somos um povo capaz de ultrapassar todas as repressões e aprender com elas. Ou não somos?
Terça-feira, 30.Set.2008 at 02:09:57
Já dizia Kierkgaard, numa frase que gosto particularmente : “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás…mas só pode ser vivida olhando-se para a frente!”
Como penicheira que sou, quero que a minha terra viva! Não esquecendo o seu passado (de alegrias e sofrimentos), melhorando o seu presente (e há muitos anos que as condições da Fortaleza e do Museu Municipal não são as melhores) e acreditando num futuro que, não renegando a sua história, possa ser mais feliz…
Terça-feira, 30.Set.2008 at 03:09:11
Faltou-me recordar, no post anterior, que Peniche, e nomeadamente a sua Fortaleza,têm uma história que vai para além do tempo em que em Peniche houve uma cadeia. Não desrespeitando aqueles que por lá passaram (e seus amigos e familiares) há que respeitar também aqueles que em Peniche continuam a viver e querem, na sua terra: um núcleo museológico (da Resistência e não só)actual e pedagogicamente interessante; mais emprego; melhor oferta turística; uma Fortaleza renovada e não degradada (como está hoje).Porque não é no caminho da degradação que se dignificará a história ou avivará qualquer memória.
Terça-feira, 30.Set.2008 at 03:09:42
Moro em Peniche. Tenho ligações profissionais à História e considero que se pode conjugar perfeitamente a pousada com a prisão política.
Existem exemplos pelo país em que se associou perfeitamente a História, o Património e a modernidade.
O espaço como está não é mais tolerável.
Terça-feira, 30.Set.2008 at 03:09:42
Em relação aos comentários imediatamente anteriores a este, importa sublinhar que Peniche não ficaria nem menos valorizado nem menos «honrado» se o Forte fosse transformado num verdadeiro centro (não só museu) de homenagem à «Memória Histórica», com actividade cultural diversificada.
Houvesse vontade política e cívica e seria certamente possível recorrer a mecenato para tornar o projecto viável.
Apagar ou mesmo só enfeitar a História é que não vale.
Terça-feira, 30.Set.2008 at 04:09:31
Para além do estigma que Peniche carrega por ter tido uma fortaleza do sec. XVII transformada em prisão política, a degradação, o abandono e o esquecimento tem sido também uma “tortura” para as gentes de Peniche. Enquanto monumento nacional, o estado da fortaleza de Peniche é da responsabilidade da administração central. Para quem é de cá e vê na fortaleza um velho monumento esquecido, têm sido anos e anos “a ver passar os navios” com ideias, estudos, protocolos e projectos que não avançam. Para quem é de cá e tem de emigrar porque não existem empregos volta a ter um pouco mais de esperança.
Só para que fique demonstrado o fundamentalismo e sectarismo dos participantes desse “blog da memória” não vi nenhuma preocupação com a preservação da memória e das características da fortaleza da séc. XVII. Acho que o município terá nos próximos 5 anos uma oportunidade única de conjugar naquele espaço a história de Peniche e da fortaleza original no núcleo museológico, a história da resistência anti-fascista no seu núcleo, a cultura e o lazer nos espaços a intervenionar e o turismo, a criação de emprego e o desenvolvimento económico e social com o projecto da pousada.
Parece-me que poderá sair dali um projecto integrado, fazendo renascer aquele espaço, que poderá vir a ser um novo centro de actividades de lazer, culturais e pedagógicas, onde umas componentes serão potenciadoras das outras, o que sem dúvida beneficiará Peniche e as suas gentes bem como a memória da resistência anti-fascista com melhores condições de visitação e divulgação e obviamente com mais visitantes.
http://amigos-de-peniche.blogspot.com/2008/09/os-tortuosos-caminhos-da-memria.html
Terça-feira, 30.Set.2008 at 07:09:48
Nunca confundi Peniche nem a sua população com o que se passava no interior do Forte. Pelo contrário: durante os 2 anos em que semanalmente ali visitei um familiar recebi sinais de solidariedade de muitos habitantes da vila. Parece-me, pois, exagerado falar de um “estigma” sobre a vila. E acho que a indignação perante o projecto “pousada” não implica defender a degradação da fortaleza ou do Museu Municipal. Mas não posso concordar com a Sandra Marques. Mostrar as atrocidades cometidas só justificaria a depressão se não tivesse havido mudanças no país: ora a repressão não impediu a queda do regime, o fim da guerra colonial, e a transformação de Portugal num país que – apesar do muito que desejaríamos fosse melhor – não tem nada a ver com o país miserável e parado dos tempos em que a Fortaleza de Peniche albergava uma prisão política. O que a memória da Resistência nos ensina é que lutar vale a pena.
Quarta-feira, 01.Out.2008 at 01:10:53
Reféns do que poderia designar de sacrilização do mercado e de velhos, e novos, clichés,
houve quem optasse, estrategicamente, por recuar algumas centenas de anos para fazer a apologética, ainda que velada, de apostas sacrossantas em nome de regionalismos e de opções ideológicas que, por razões de pudor já assinalado, deveriam ser evitadas.
Estigmatizar os participantes com as expressões, fundamentalismo e sectarismo, é, na minha opinião, uma provocação grosseira e parola e me suscita algumas reservas sobre a sua idoneidade e isenção politica.
A minha convicção é inabalável quando afirmo que nenhum dos participantes, deste blogue,
se permitiria visitar o “amigos de Peniche” com a intenção deliberada de insultar tudo e todos.
É também contra tiques fascizantes que muitos de nós sempre se insurgiram
Quarta-feira, 01.Out.2008 at 02:10:06
Este parece-me um verdadeiro ‘case study’ sobre os atentados crescentes à preservação e transmissão da memória, e no limite, sobre o estado da nossa democracia.
E também uma oportunidade para confrontar o poder político (autárquico e central) com as suas responsabilidades históricas e cívicas. Eles deverão responder inequivocamente se estão ou não de acordo com a existência em Portugal (à semelhança de todos os outros países que viveram o fascismo) de um Museu da Resistência que acolha, das formas mais variadas e nos mais diversos registos, os sinais dispersos mas inapagáveis do fascismo português. Se sim, o Forte de Peniche é (Seria!…) consensualmente o lugar indicado, como têm vindo a dizer ao longo de quase quarenta anos, num debate que ciclicamente surge e logo desaparece, estudiosos e políticos dos mais variados sectores do arco democrático.
Se não, ficaremos esclarecidos quanto à dimensão da ética republicana e do espírito cívico de quem nos governa. O que não se aguenta mais é este NIM hipócrita em que se refugiam, numa estratégia habilidosa, do ‘ainda não’ ou do ‘já não’.
Ou não se lembram que houve um tempo em que, em nome dos valores mais nobres da reconciliação nacional, alguns ‘opinion makers’ defendiam que falar da questão, antes de um período de luto e de pacificação nacional, AINDA não era possível. Mas agora, 38 anos passados, JÁ não é viável. E isto porque, enquanto a decisão política tardava, as forças do progresso (sector imobiliário, à cabeça) moviam-se a bom ritmo. Aconteceu com a António Maria Cardoso. E está a acontecer agora com Peniche. E temo que a reacção à notícia reproduza um tique de comportamento muito comum entre nós: um intenso mas breve sobressalto colectivo, logo seguido da baixa drástica dos níveis de ansiedade, muito à beira da prostração.
Quarta-feira, 01.Out.2008 at 10:10:50
http://www.jornaldepeniche.pt
P´ra melhor já basta assim…
Escrito por Bernardo Ribeiro Costa
30-Set-2008
A terminar o mês de Setembro, e à falta de editorial, eis que se instala a polémica em torno do projecto de recuperação da Fortaleza de Peniche. Quer dizer, não se trata verdadeiramente de uma polémica, antes da repescagem de um assunto que em Peniche já foi discutido anos a fio, naturalmente sem consensos e unanimismos (fariam falta!?), trazido agora à liça por alguns blogues com destaque.
Sobre este assunto, tenho pena que eu próprio não tenha o cuidado de guardar coisas que por vezes escrevo, eventualmente porque as relativizo, independentemente da importância dos temas. Contudo, também em tempos, no meu falecido blogue, tive oportunidade de me pronunciar sobre este assunto. Resta-me porém uma simpática referência feita a esse meu post no blogue Amigos de Peniche, sob o título de “diferendo protocolar”. Curiosamente, até por que se trata de uma referência que, em meu entender, vai ao âmago da questão novamente controvertida.
Nessa altura, em 30 de Maio de 2007, sobre o assunto do Museu de Peniche, respectivo núcleo da Resistência Anti-fascista e aproveitamento condigno da Fortaleza, em geral, referi que “…Como é amplamente conhecido, a Fortaleza não está próxima do mar, está dentro do mar. Esse elemento, dominante, é altamente hostil quer a qualquer colecção que lá exista dentro, quer à própria edificação, como se vê no seu estado actual. Sendo um dos objectivos dos espaços museológicos o da conservação preventiva dos seus espólios, prolongando a vida dos bens culturais e tratando as causas de degradação, não se percebe como alguma vez se poderá atingir esse desiderato quando escorre água do mar pelas paredes”.
Sobre este assunto, há algumas questões que devem ser desmistificadas, sob pena de não se discutir o fundo da questão, senão vejamos:
– O Museu de Peniche, dito Museu Municipal, verdadeiramente, não é mais do que um conjunto de colecções avulsas reunidas num espaço de todo inapropriado para o fim a que tem sido destinado;
– A colecção denominada de “Resistência Anti-fascista” não esgota o “Museu Municipal”;
– A Fortaleza de Peniche é muito mais do que o designado “Museu Municipal”;
– O “Museu Municipal” merece melhor sorte do que a actual, pois Peniche, como qualquer outra cidade, precisa / deve preservar as suas memórias; e, por último, mas não menos importante,
– A Fortaleza merece melhor sorte, pois só quem não a visita ou alguma vez a visitou pode escamotear o estado de degradação em que se encontra.
Posto isto tudo, que me parece absolutamente pacífico, reconheço que ninguém gosta de “passar cheques em branco”, como já li por aí em torno deste tema. Sem dúvida, percebo e partilho do ponto de vista que o projecto de aproveitamento da Fortaleza de Peniche pela Enatur carece de divulgação. Até filosoficamente, como é evidente, as pessoas temem o que não conhecem, daí que me pareça prudente que o projecto em discussão na blogosfera seja tão rapidamente quanto possível tornado público.
O que me leva a uma última vertente desta questão, para já, e que se prende com a necessidade que por vezes as pessoas têm de embandeirar em arco com questões mais emocionais que racionais.
Na verdade, as declarações do Presidente da Câmara Municipal de Peniche, a este propósito, correspondem integralmente ao que penso a este respeito. E seguramente muitos outros cidadãos deste concelho. E não me venham com tretas de “ópticas mercantilistas” e outras do género.
Como é sobejamente conhecido, há um vasto conjunto de monumentos nacionais, nos quais padeceram e morreram pessoas, por causas mais ou menos justas, e que tem sido condigna e respeitosamente aproveitados numa óptica de utilização turística.
Contudo a “questão” é outra, menos delicada, bem sei. E quanto a esta – que é como quem diz, quanto à verdadeira questão –, remeto daqui as minhas sinceras saudações ao Vice-presidente da Câmara de Peniche, Jorge Amador, na sua qualidade de reputado militante do Partido Comunista Português, decerto insuspeito quanto à preservação da memória da Resistência Anti-fascista, por também ele ter vindo a público defender intransigentemente este projecto.
Tenho a certeza absoluta que lhe seria tão mais fácil embarcar na cruzada da “indignidade” e deixar estar tudo como está.
Quarta-feira, 01.Out.2008 at 04:10:19
(…) beber um copo no local onde tantos foram torturados, fazer turismo em cima de tanto sofrimento (…) Parece da maior hipocrisia dizer-se tal coisa, apenas porque se trata de algo que está à distância da lembrança dos vivos. Há anos que este país anda a converter espaços religiosos e para-religiosos em hóteis, bares, discotecas – literalmente a dançar em cima de mortos e ninguém se preocupa com isso apenas – e quanto a mim – porque se trata da Igreja Católica, a quem os bens foram roubados e este acto dessacralizou os espaços? Dois pesos e duas medidas. Os historiadores, arqueólogos e toda a gente do património não tem hesitado em participar deste movimento mercantilista, vendendo-se, por um lado, por tusto e meio e dois artigos científicos numa revista patrocinada pelo imobiliário e, por outro, aprovando projectos estapafúrdios que estão à vista de todos neste lindo urbanismo praticado em Portugal. Peniche é um caso entre muitos outros – alguns bem piores e sobre os quais nunca ninguém se atreveu a abrir a boca, nem a atirar a pedra.
Quarta-feira, 01.Out.2008 at 04:10:24
Este é de há muito o “Projecto PS”. Este é agora o presente envenenado do governo Sócrates,uma das contrapartidas da mudança do Aeroporto da Ota para Alcochete…
A Memória de um Povo não se vende!…
Voltarei ao tema.
Quarta-feira, 01.Out.2008 at 05:10:46
Não conheço o projecto, mas já nada me espanta.
De repente recordo um dia, há uns três anos,em que estava a beber um chá numa lindíssima casa de chá em Baucau. E alguém diz: “isto foi construído sobre o lugar onde os indonésios faziam os interrogatórios e torturavam os presos.”
Nunca um chá me foi tão amargo.
Até hoje, nunca fui capaz de voltar a Peniche (a não ser muito rapidamente numa tarde, para um trabalho qua andava a fazer). Lembro-me que sempre que lá ia às visitas, passava a noite a vomitar.
Tenho boa memória.
Sexta-feira, 03.Out.2008 at 05:10:34
Aqui na nossa terra queremos ser originais custe o que custar:os maiores centros comerciais da Europa,os maiores hospitais,os maiores dos maiores,e porque não a maior e melhor forma de enterrar uma ditadura,continuando ela cá dentro e sobretudo dentro das nossas cabeças?
Hoje a nossa vizinha Espanha está a desenterrar os crimes da guerra civil espanhola para que aquele povo que sofreu atrocidades inauditas possa enterrar dignamente seus mortos,e neste processo aprender com a sua história.
Lorca e seus companheiros de morte é disso um dos múltiples exemplos.
Uma visita a Berlim,mostra-nos várias abordagens e maneiras de como tratar a memória do holocausto.E muitos outros exemplos por esse mundo fora…
Se a memória não me falha,há tempos várias vozes se indignaram por haver um incipiente projecto de se estabelecer uma discoteca ao lado do campo de exterminio de Auschwitz.
Há evidências que não se discutem,e não só para os que sofreram na pele,mas também para todos os outros seres vivos
.Assim se constroi o futuro,aprendendo,legando às futuras gerações o de que somos feitos.
Não se deve confundir à partida interesses antagónicos:
A especulação da”construção imobiliária” e o património histórico-cultural de um povo.
A ditadura salazarista e seu aparelho repressivo,quer queiremos ou não fazem parte da nossa história.
Embelezá-la passando-lhe um paninho com solarina do coração ou transformando-a num objecto consumível (e de luxo!)é mascarar um interesse de mercadores gananciosos e faltos de criatividade.Matam-se dois coelhos com um tiro:a memória banalizando-a impedindo assim a aprendizagem e a miséria bancária de alguns gestores iluminados.
O sentimentalismo acompanha esta postura,que disvirtua conscientemente um património público,para engorda do bolso e vaidade de alguns.
A razão e a lógica a daqueles que de uma forma mais ou menos emocionada(com toda a justiça) tentam investigar e organizar,com a dignidade que tal tarefa impõe, um património que é de todos.
Empreguemos a nossa energia e visão ampla
em rescatar e aprofundar o conhecimento da(s) nossa(s) história(s),demos-lhe uma projecção para fora do nosso quintal,aí nos cumpriremos como povo e universalmente.
Virão pessoas de cá e de outras partes do mundo para aprender connosco.Desfazem-se os nossos complexos de pequenez e o mito de esse “jardim à beira mar plantado”.
E para os que são mais conciliadores vai esta perguntinha:
Porque não propôr aos talibans:em vez de destruir os Budas gigantes,podieis escarafunchar os pézinhos do buda e dentro construir um ressort para turistas em stress!
ou ainda aos mexicanos:e tanta pedra para quê? Um hotel em Teotihuatican ,na pirâmide do sol e está a andar….até se podem fazer umas animações cortando cabeças para animar a malta!
Sábado, 04.Out.2008 at 03:10:40
Requere-se a todos os não-peninchenses que se abstenham de deliberar sem conhecimento de causa e sem o intuito de averiguar qual a solução que melhor serve Peniche.
Domingo, 05.Out.2008 at 02:10:37
Dois factos se destacam de tudo o se tem dito e escrito sobre o futuro do forte de Peniche: a polémica e escândalo. A polémica surge entre quem defende o justificável interesse da criação de uma pousada num local votado ao abandono há muitos anos e, por outro lado, quem entende que esse aproveitamento, mercantil, é eticamente inadmissível num local de tristes memórias, local marcado pelo sofrimento, agora destinado ao lazer e ócio de quem com bom dinheiro os paga. Além disso, da polémica e do escândalo, outro facto espanta: esse projecto, que se supunha ter sido esquecido, é friamente anunciado como facto consumado.
No meio de tudo isto, outros factos relevantes são ignorados: a lamentável inexistência em Peniche de locais culturais condignos de interesse público, uma sala municipal de espectáculos, um salão de exposições com actividades regulares, ao serviço da cidade ou de quem a visita. Várias tentativas se esboçaram, frágeis e sem continuidade, para que nobres actividades dessa ordem pudessem vingar no local nobre que é a fortaleza. Quem por lá sofreu por certo terá imaginado que feliz se sentiria estando ali a ver algo como por exemplo uma exposição em vez de estar a ver os camaradas presos a contrariar o ócio atirando boinas e bonés para dentro de um poço que os repelia com um sopro assustador, trazendo-os de volta a cada vaga que, lá no fundo, irrompia por baixo da falésia.
Consumado o facto por inteira responsabilidade da autarquia, o que será de esperar? Garantem-nos os autarcas que, apesar de a pousada ser destinada a gente fina que enriquecerá a terra, a memória será preservada. Garantem-nos, em suma, que a História não será esquecida, tanto a da cidade como a de quem ali viveu a repressão de uma feroz ditadura. Embora instados por quem protesta a explicar como isso será feito, nada dizem. Percebe-se assim que das duas uma: ou isso não está inequivocamente previsto no contrato que assinaram com quem vai explorar a pousada ou, se está, algo estão escondendo. Em qualquer dos casos, será este o maior escândalo e porventura o motivo maior para que a polémica prossiga. Por outras palavras: se os críticos não desistem vamos ter pano para mangas. A memória tem coisas destas: cometem-se por vezes erros sem remédio que nunca serão esquecidos. Pobres de nós se assim não fosse…
Segunda-feira, 06.Out.2008 at 12:10:12
Deixemo-nos de autismos.
Pousada e preservação e respeito pela Memória são compatíveis e podem beneficiar uma com a outra.
Como a Fortaleza está neste momento é que não.
Segunda-feira, 06.Out.2008 at 11:10:14
Não me parece que o projecto da Pousada vá eliminar a memória histórica da fortaleza, nomeadamente no aspecto relativo à prisão política.
A Pousada, segundo parece, irá ocupar uma parte do espaço.
O estado em que o edifício se encontra não é nada dignificante para a sua história. Por isso, sou a favor da construção da Pousada. O que é preciso é saber conjugar a história e a memória daquele espaço com o novo equipamento.
É provável que graças à Pousada mais gente venha a conhecer a história da prisão política e do regime que a criou.
Não me parece que as autoridades a nível local deixassem que aquele espaço perdesse a sua memória. Infelizmente, a nossa é que se está a esvair!
Segunda-feira, 06.Out.2008 at 11:10:49
Só gostaria de acrescentar que antes de criticar é preciso conhecer o projecto!
Sábado, 11.Out.2008 at 12:10:18
Não há projecto…
Eis o que por fim foi dito pelo Senhor Presidente da Câmara, hoje segundo notícia do Público e um comunicado à imprensa do NAM :
http://maismemoria.org/mm/2008/10/09/comunicado-a-imprensa-museu-da-resistencia-de-peniche/
Não há projecto para o espaço museológico na Fortaleza de Peniche nem para o Museu da Resistência, o que quer que lhe chamam, nem para o Museu Municipal, que se julga existir nesse local. Nunca houve nem continua a haver. Não houve e não há só porque alguém se lembrou, aqui há uns anos atrás, de que o melhor a fazer era meter ali uma pousada, e pronto. Assim ficou.
Acorda a gente agora, sobressaltados com a notícia. A CMP abre as portas ao comércio e quer conciliá-la com cultura. É forte a aposta. O Senhor Presidente da Câmara garante que sim, que é bom guardião da memória, que podemos dormir descansados, mas, perante os factos, não sabe bem o que quer e nada tem garantido.
Dando um passo atrás: o assim designado Museu Municipal de Peniche foi criado por iniciativa de um grupo de cidadãos que levaram a CMP e a sua presidente, Fátima Pata, aqui há uns anos atrás, a ocupar as instalações do forte para esse fim.
Num curto espaço de tempo foi reunido um espólio significativo, em que se destacam peças de importante valor arqueológico. Foi feito um inventário de fotografias antigas sobre Peniche e delas se fizeram negativos para os arquivos da câmara. Outras iniciativas houve, que fizeram do MP aquilo que ele é hoje. Pouco melhorou. Ao mesmo tempo, a CMP integrou no museu, ocupando o espaço mais importante da antiga prisão, o designado Núcleo da Resistência, que é o seu pólo mais importante e o que mais visitantes atrai.
Este património já ali ganhou raízes e dali não será alienado, eis o que se deduz das afirmações de António José Correia, alguém que merece crédito. Mas é de estranhar que, na ausência de projecto e no calor da polémica, todos se esqueçam, volto a insistir, no património valioso, embora escasso, do actual museu, ou simplesmente se esqueçam da sua existência, como se ela não estivesse em questão.
Por quem e como vai ser gerido todo esse património, o arqueológico e o histórico, a memória da cidade, a da praça-forte, a da resistência anti-fascista e a da prisão política? Não será toda a mesma? Será que a ideia para o museu de que se fala é a de apenas expor? Não haverá coisas vivas, animação? Será que isso está previsto no projecto de Siza Vieira? Parece que nem ele próprio sabe.
Não há projecto sequer, mas há protocolos assinados que envolvem milhões. Impera o silêncio e a coisa parece não ter explicação.
Dois cenários:
1 – Instala-se uma pousada de luxo. Vem gente fina lá de fora e dá de caras com um corrupio de patuscos a entrar e a sair, uns tristes e sorumbáticos, outros mais bem dispostos, alguns até de garrafão. Vão achar graça.
Dará? Se não der no Verão, dá no Inverno. O Tó Zé é homem para os convencer que melhor não há para curas de reumático.
Se os patuscos tiverem de ficar de fora, quem é que vai usufruir do produto? A pousada? Com que fins? Será que os cepos romanos, as ânforas, o canhão manuelino vão servir para a decoração? Como pode conviver a clientela de uma pousada de luxo com um museu da resistência anti-fascista? Se pode, como é?
2 – Instala-se uma pousada para remediados, associada às actividades do Museu de Peniche e do Museu da Resistência. Será que isso interessa às entidades exploradoras? Quem irá gerir? Com que fins ?.
Não havendo projecto, quanto tempo será necessário para dar resposta a estas questões? Quem fará o projecto, como e quando? O de Siza Vieira mantém-se? Sim ou não? Por quanto tempo, na melhor das hipóteses, poderá esperar a ENATUR antes de dar o assunto por arrumado?
Perante a inacreditável ligeireza, perante o andar da carruagem, que certezas existem para quem pretende justificar a pousada como coisa coerente e desjável?
Sábado, 11.Out.2008 at 10:10:34
MEMÓRIAS:
Invocação de Dias Lourenço
A fortaleza nos seus 350 anos (RTP)
Domingo, 12.Out.2008 at 07:10:46
MUSEU DA RESISTÊNCIA
Nota de intenções:
http://www.urap.pt/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=136
Sábado, 18.Out.2008 at 01:10:37
Caros amigos,
Sou nascido em Peniche, a dois passos do forte. Julgo ter boas razões para não ficar calado. Foi por ter lido o que aqui foi dito que fiquei a saber, como muito boa gente, o que se passava. Deixei uns comentários no arquivo desta conversa número um e tornei-me leitor atento.
Para melhor eu próprio entender, fiz uma lista daquilo que apanhei na net com informação relevante sobre as questões que estão em causa.
É uma lista de notícias, por ordem cronológica. Pode servir a todos os que, por afecto ou direito, desejam ver resolvida a coisa. A mim servirá.
NOTÌCIAS ONLINE sobre a Fortaleza de Peniche e a pousada
Notícia em Oeste Diário de 18-07-2002 (Pousada da Fortaleza de Peniche com projecto adjudicado)
http://www.oestediario.com/oestediario/artigos_oh.asp?cod_artigo=138394
Notícia na Gazeta das Caldas de 31-05-2003 (Siza Vieira começou a projectar a Pousada de Peniche)
http://www.oesteonline.pt/noticias/noticia.asp?nid=3491
Notícia em Autarquias de 3 de Dezembro 2003 (Executivo Camarário opõe-se ao abandono do projecto da pousada)
http://www.accaosocialista.net/03/1209_03_12_2003/autarquias_01.htm
Notícia RTP, 16 de julho de 2007 (A fortaleza nos seus 350 anos )
2008
URAP Nota de intenções, 16-Fev-2008 (O Forte de Peniche – Um Testemunho de Resistência e Luta pela Liberdade no Regime Fascista)
http://www.urap.pt/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=136
PROGRAMA DE ACÇÃO OESTE
+ 4 MUNICÍPIOS DA LEZÍRIA DO TEJO
Ficha de Projecto:
Click to access F2-117.pdf
(Organismo responsável: Câmara Municipal de Peniche
Data: Julho 2008)
Notícia em Agência Financeira de 2008/09/25 (Pousadas prontas para avançar com expansão e internacionalização)
http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?id=995252&main_id=
Post em Caminhos da Memória de Irene Pimentel de 28.Set.2008 (Peniche: de Prisão a Pousada?) e PÁGINA DE DISCUSSÃO alargada
https://caminhosdamemoria.wordpress.com/2008/09/28/peniche-de-prisao-a-pousada/
Notícias RTP de 8 de Outubro 2008 (Peniche:Projecto turístico para Fortaleza vai impor-se à preservação do museu da resistência – Não Apaguem a Memória)
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=366949&visual=26&rss=0
URAP Nota de Imprensa 09-Out-2008 (Projecto Museológico para a Fortaleza de Peniche)
http://www.urap.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=179&Itemid=2
RTP – 11.10.2008 – Telejornal (O presidente da Câmara de Peniche declara preparar acordo coma ENATUR sobre a conciliação do projecto museológico com o da pousada)
http://ww1.rtp.pt/wportal/acessibilidades/legendagem/pecas.php?data=2008-10-11&fic=telej_2_11102008&peca=5&tvprog=1103
Notícia no Jornal de Peniche, 16 de Outubro 2008 (URAP considera que Pousada não é incompatível com requalificação da Fortaleza de Peniche)
http://www.jornaldepeniche.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=739&Itemid=25
Notícia Jornal Avante de 16.Outubro.2008 (URAP defende requalificação do Forte de Peniche)
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=26362&area=7
Notícias RTP, 17 de Outubro 2008 (Peniche: Câmara informou que pousada não será concretizada nos próximos anos)
http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=366967&visual=26&rss=0
Notícia Público de 28.10.2008 – 11h24 Lusa (Câmara de Peniche informou que futura pousada “não será concretizada nos próximos anos)
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1345308
Sábado, 18.Out.2008 at 02:10:11
Desde já, e independemente de uma possível resposta da Irene Pimentel, muito obrigada pelo seu comentário e pelas informações que nos manda.
Sábado, 18.Out.2008 at 11:10:23
Cara Joana Lopes,
Agradeço-vos a atenção. Aproveito para voz dizer que registei por um ano o nome de domínio
http://fortalezadepeniche.net
ou
http://www.fortalezadepeniche.net
que ficará direccionado para esta página de discussão. Como não era fácil aqui chegar, aqui fica um contributo. A partir de amanhã o endereço ficará activo.
Saudações cordiais
Segunda-feira, 20.Out.2008 at 11:10:28
Tenho pena de ler muitos comentários de “velhos do Restelo”. A memória deve ser respeitada, mas não pode travar o futuro nem o desenvolvimento. Portugal é de facto conhecido pela sua melancolia, por ficar presa ao seu fado triste. Felizmente a nova geração (a minha e posterior) é diferente.
Concordo que se deva preservar a história mas que melhor forma para dar vida a um espaço que agora se encontra abandonado que o tornar atractivo, moderno e economicamente sustentável?
O conceito de pousada salvou da ruína muitos outros lugares históricos e trouxe pessoas a conhecer o que nunca teriam conhecido.
“Sou de Peniche” e apoio a decisão da pousada!!!
Terça-feira, 21.Out.2008 at 01:10:31
…eu não sou de Peniche, mas gostaria de saber,quais os lugares históricos onde houve tortura e morte, que foram salvos da ruína pela empresa que gere as Pousadas de Portugal…
Qualquer dia ainda vejo por aqui um post
de alguém de Évora… Que pertença à sua geração… diferente…alguém que quer tornar atractiva, moderna e economicamente sustentável… a Capela dos Ossos!
Terça-feira, 21.Out.2008 at 01:10:02
Já agora, porque não restaurar o forte e mante-lo exactamente como está?
Porque insistem em dormir lá?
Quarta-feira, 22.Out.2008 at 09:10:59
Resposta exclusiva ao Ricardo Costa “Grande Amigo de Peniche”.
Como sabes conheço-te bem, é com indivíduos como tu que Peniche tem progredido. Felizmente já pouca gente te conhece na terra onde nasceste e os que se lembram é só por maus motivos.
Vê lá se tens oportunidade de fazer um verdadeiro acto de contrição.
Quinta-feira, 23.Out.2008 at 03:10:52
Caro João Avelar,
É verdade que nos conhecemos bem, já lá vão uns bons anos. É verdade também que somos ambos amigos de Peniche e que de Peniche gostamos por certo das mesmas coisas, algumas das quais que deixámos de ver para sempre. Espero bem que se mantenham aquelas de que gostamos e que outras surjam.
Acto de contrição? Vou indo aí e aí vou fazendo o que posso. Sabem os que me conhecem que fui uma das pessoas que viabilizou o que hoje existe na Fortaleza e um dos que me bati para que parte da memória de Peniche aí ficasse: a da cidade e a da prisão política. Deixei espólio e contribui para que o célebre parlatório não fosse destruído para se transformar numa prosaica secretaria do museu. Não desisti de defender que a memória da cidade deve ficar lá dentro e que lá dentro fique a memória de quem lá sofreu. Retirar de lá a cidade ou de lá excluir a invocação de uma dura realidade com que ela silenciosa e envergonhadamente durante muitos anos conviveu não me parece acertado. Não me parece também acertado admitir a entrada nesse local de qualquer tipo de elefante branco. Basta aquilo que já lá houve e a desolação que por lá existe, que não se entende.
De certeza que voltarei ao assunto. Como muito boa gente estou à espera que o silêncio se quebre e que alguma boa notícia anime o marasmo em que tudo isto caiu. Ainda bem que o safanão foi dado.
Um abraço para ti.
Aproveito para deixar aqui mais duas coisas que merecem atenção:
1 – Notícia do Público de 16 de Outubro de 2008
«Enatur quer que arquitecto Siza Vieira retome projecto da pousada para o Forte de Peniche»:
http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain%2Easp%3Fdt%3D20081016%26page%3D13%26c%3DA
2 – A Fortaleza de Peniche (fotos de Dias dos Reis)
http://www.pbase.com/diasdosreis/peniche_fortaleza
Quinta-feira, 23.Out.2008 at 10:10:07
NOTA: ao clicar no endereço da notícia do Público que deixei no post de ontem, aparece outra coisa. Para se ver a tal notícia, basta copiar o endereço completo, inseri-lo na barra de endereços de um motor de busca e clicar.
Afirma o autor da notícia, Sérgio C. Andrade, que Rui Mota, presidente das Pousadas de Portugal, declara que Siza Vieira vai ser convidado pela ENATUR a retomar o seu projecto. Siza Vieira responde sentir-se surpreendido com isso. «Duvido que continuem a contar comigo», terá dito, e garante que, depois de 2003, nunca mais foi contactado. Afirma além disso que «nessa altura não aceitou o projecto que lhe tinham proposto». Diz ainda entender que a pousada é compatível com o museu. O mesmo diz Rui Mota. Talvez os dois se entendam…
Não há portanto qualquer projecto arquitectónico. O jornal mostra a fotografia de uma maqueta de Siza Vieira que será apenas uma ideia do que poderia ser feito. Nela, o traçado da pousada ocupa o espaço central do terreiro. Situa-se a norte do redondo (que não se entende que uso teria), no lugar das construções erguidas nos anos quarenta. Do lado norte da pousada, é visível, tal como está hoje, o pavilhão ocupado pelo actual museu. Integrado no edifício da pousada, do lado oeste, vê-se uma construção que também não se percebe o que possa ser, ocupando com a pousada uns bons dois terços de todo o espaço do forte. A maqueta revela entretanto a ideia de um conjunto de construções integradas. Quer isto dizer que isolar o museu da pousada implicaria impedir o acesso dos visitantes, à excepção dos hóspedes, a todo o terreiro, ao redondo e às muralhas. Não a isso. Quer isto dizer ainda que, no entender de Siza Vieira e Rui Mota, aquilo vai dar para tudo. Como o espaço é grande, vamos ter pousada, de certeza com piscina, um Museu da Resistência, um Museu do Mar, um Museu de Peniche, ateliers de artistas, auditórios, exposições, teatro, cinema e muito mais. Graças ao Tó Zé, Saiu-nos a sorte grande.
Parece por conseguinte evidente que planear-se já a ocupação dos espaços sem que haja projecto para o que quer que seja é um contra-senso. Entramos no domínio da fantasia. De realidade, entretanto, só existem duas coisas: o museu de Peniche (o tal que começou por ser pensado como Museu do Mar) e o seu chamado núcleo da Resistência (o tal que começou por ser pensado como Museu da Resistência).
Nos tempos que correm, o estado das coisas, como todos sentem, é deplorável. Dá que pensar nada estar seriamente previsto desde que, há 24 anos, a fortaleza abriu as suas portas à cidade. Em todo o caso, tanto hoje com dantes, o que parece ser pertinente e prioritário é a utilização do forte como espaço cultural. Parece ser maioritário esse consenso. A questão da pousada surge como coisa secundária. Serve apenas de argumento para quem defende o interesse em rentabilizar o local (o que só parece possível se a pousada for de luxo) ou para quem entende que ela pode servir o culto da memória e do saber (o que é motivo de gritantes omissões e de falsos consensos).
Pesa mais o silêncio sobre estas questões que as atrapalhações e hesitações do Senhor Presidente da Câmara sempre que bota palavra nos jornais e na TV. É como se estivesse impedido de dizer aquilo que terá de ser dito.
Sinto estar a falar demais aqui. Peço-vos desculpa por isso, mas não resisti. A ver se me calo por algum tempo…
Sexta-feira, 24.Out.2008 at 12:10:56
Caro Ricardo Costa
Não está de certeza a falar demais. Tem havido algum silêncio, que parece pesado, mas é momentâneo. Pode estar seguro que não está a falar sozinho. Neste momento, o momento é de tentar recolher o máximo de informação, para voltar a falar de Peniche. E a informação que está a disponibilizar é preciosa.
Sexta-feira, 24.Out.2008 at 11:10:15
Jornal Avante de 23 de Outubro de 2008 (Denunciar a política repressiva da ditadura)
http://www.avante.pt/noticia.asp?id=26453&area=7
NOTA: fala-se pela primeira vez de um Museu das Pescas e de um Museu do Mar, ideias aparentemente secundárias.
Sábado, 25.Out.2008 at 09:10:52
Cara Irene Pimentel,
Agradeço-lhe sinceramente o comentário.
Ando por aí a lidar com outras trapalhadas, vou ter de reduzir os comentários. Mas, como verdadeiro amigo de Peniche, vou ficar de olho vivo a ver passar o navio. Se topar alguma coisa, aviso.
Como uma boa parte da malta, desde puto que sou marinheiro. É um bocado assim que vejo as coisas.
Para quem não é, eu explico. O que é que se vê do largo quando se chega a Peniche? Vê-se a fortaleza, o porto de pesca e a cidade. Não nos tirem isso. Vermos isso junto é estarmos em casa.
Saudações cordiais
Quinta-feira, 27.Nov.2008 at 05:11:37
Museu do Mar, museu imaginário:
http://museudomar.info
O site, agora actualizado, contém informação relacionada com aquilo que aqui se discute.
Bom trabalho